terça-feira, 19 de abril de 2011

Amanhã, os novos livros

Há um princípio que rege os livros, e este é a permanência. Por mais que tentemos nos eternizar em nossos gestos e ações, apenas as palavras captarão toda a essência do que somos. Nelas restará dito o que pensamos, em última instância. E não basta dizê-las, temos de escrevê-las, grafá-las do melhor modo, editá-las e, finalmente, publicá-las.

Essa publicação que nos vem à mente e depois às mãos, segue um ritual prévio, que se inicia muito antes de tentar visualizá-lo como coisa concreta. Um livro é toda uma ideia concebida num estalo, a percepção de se poder dizer algo de modo específico e único e, através de nossas palavras, capturar o espírito de tudo o que mais nos importa.

Isso pode ser dito em um poema, em um conto ou romance, ou mesmo numa tese, numa carta, num ensaio. A palavra tem esse dom de perpetuidade, que toda vez ao ser pronunciada, traduzida, ou interpretada, pode suscitar várias reações, de perplexidade ou de compreensão. As ideias viajam nas palavras. E dizê-las faz toda a diferença.

Escrever é esse ofício de labutar com palavras - e a força que elas contêm é maior e melhor do que todo o esforço humano de fazer qualquer outra coisa. As outras coisas são feitas, é claro, mas foi uma palavra, um verso, um texto que as motivou. Colombo atravessou o Oceano Atlântico por causa do livro de Marco Polo. O "Romance da Rosa" foi escrito por causa das cartas entre Abelardo e Heloísa, e sempre um livro puxou outro, por causa de um poema, outro foi escrito, por causa de um romance, outro romancista se debruçou sobre sua própria obra. Machado de Assis foi um tipógrafo quando jovem e começou a ler o que lhe davam. E esse mesmo labor tornou-o escritor de seus próprios pensamentos.

Hoje, não é diferente. Os livros tomam forma, pois para cada pessoa, há um sentido no que escreve, como para o músico, só a música o protege, e para o pintor, as tintas respondem ao seu movimento. O escritor não é diferente de qualquer artista, e para o seu ofício basta escrever em qualquer lugar, num caderno ou laptop, numa folha de papel solta, num bloco encontrado ao acaso.

Para mim, todo livro se apresenta como desafio de projetá-lo para o futuro. Seja a moça que queira publicar os primeiros poemas, ou o cavalheiro, as suas memórias, o livro é o elo entre o aqui e o agora e o amanhã.

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2011 - 23h32 - Dia de Santo Expedito