sexta-feira, 20 de maio de 2011

O dia a dia dos livros

Vivemos à volta de livros que vivem em torno de nós. Olhamos para paredes forradas de volumes, bibliotecas extensas até onde alcançam os olhos. Os livros enchem as casas, como preenchem as livrarias, todos olhando de seu canto da estante, esperando mãos ávidas para buscá-los. Uma vitrine de livros é uma janela viva. Os volumes respiram, como nós. E sorriem lentamente em sua imobilidade.

Mas há os livros rápidos, os que carregamos na bolsa, na pasta, na sacola, para ler na fila do banco, no recreio, no metrô, no ônibus, na sala de espera. Ali os médicos deveriam oferecer livros e não revistas. No cabeleireiro, a conversa seria outra, se as madames lessem os clássicos. E os homens também, na barbearia.

Há os livros que lemos sem contar a ninguém. E aqueles que contamos para todo mundo. O melhor livro é o emprestado, nunca o que emprestamos. Ele nunca volta como foi, e talvez nunca volte. Mas quem o empresta, dá ao amigo um tesouro.

Bibliotecários são guardiões de livros. Entendem deles como um paciente. Auscultam páginas e observam suas marcas. Um livro de biblioteca é diferente de qualquer outro. É um ancião esperando uma visita.

Livros, enquanto existirem para o tato, serão o melhor companheiro de todas as horas. Escolhemos um livro como um amigo com quem passar o tempo. E com ele dialogamos. Perguntamos e ele responde, até o que não foi perguntado.

Procuramos por certos livros a vida inteira, ou pensamos em um para escrever por muitos anos e, finalmente, ele se materializa, como por encanto, à nossa frente, ou descobrimos como fazê-lo.

Convivo com livros há muito tempo, e partilho-os com meus amigos, ora dando-os, ora fazendo-os, ora lendo para eles. Quem lê para alguém, lê para si mesmo em voz alta. Palavras foram feitas para serem ouvidas, não só lidas.

Livros partilham pensamentos, semeiam ideias em desconhecidos, que se tornam íntimos de seu autor. Ler tudo o que um autor escreve é ser mais que fã. Torna-se seu arauto. Em quantas mentes habitam os mesmos livros, cada um compreendido com sua ótica?

Crianças amam os livros, não só por causa dos desenhos, mas porque contêm histórias que não estão em lugar algum - só ali se encontram os personagens daquele sonho. A ficção se transveste de realidade para nos fazer crer naquilo que acredita. Às vezes, uma história inventada é mais vívida do que a vivida.

Os livros vivem seu dia a dia lado a lado com os homens, mulheres e crianças que se dispõem a lê-los, ou a esperar que algum deles o eleja, seja um exemplar, ou um e-book. O livro está prestes a se tornar uma lenda - em 500 anos de história, transformou-se na fala viva dos homens, não só as palavras escritas há muito tempo. É possível ler qualquer coisa assim que tenha sido escrita.

A internet é um grande livro desorganizado, em que cada um dos milhões de internautas escreve nas páginas abertas da web. Uma fração disso se confina entre duas capas. O restante vive a trafegar nas telas de todos os computadores.

Eis o novo livro: um ser eletrônico que se transmite, como pássaro mensageiro, em muitas línguas. Somos testemunhas dessa mudança, o que transformará o homem em leitor cibernauta, escrevendo sua história, minuto a minuto.

Ler e escrever continua na ordem do dia. E aprendemos isso com os livros.

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2011 - 2h34

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