sábado, 16 de setembro de 2017

Escrita labial

Conheço Solange Padilha desde 1982, quando participamos do Festival das Mulheres, organizado por Ruth Escobar, em São Paulo. De lá para cá, publicou Saphographia e Dadaandaainda nas décadas de 80/90. Meticulosa, observadora e sensível, Solange elaborou, ao longo de 30 anos, estes novos poemas, reescrevendo, à exaustão, o que parecia não ter fim. Ao completar mais uma década de sua interminável meninice, Solange publica estes poemas em sua última forma, o que consumiu sete meses para virem a lume. Perfeccionista in extremis, nada a contentava, até desenhar sua própria capa – a difícil missão de dar rosto a um livro. Todo livro possui a essência de seu autor, e esta pode demorar a se revelar, até que um sonho a impulsione. Acompanhar esse processo foi tortuoso, pois um livro não caminha em linha reta. Se é da natureza das coisas serem circulares e elípticas, este Escrita labial cumpriu todas as rotações, translações e elipses possíveis, até se materializar. Um livro é um ser, não um objeto. E, por mais estranho que seja, é um ser dotado de alma e sentimento. O sentimento dos poemas é esse, de instigação, de perplexidade, de caminho reencontrado, pois, para caminhar, foram necessárias algumas correções de trajetória, feitas, uma a uma, como numa viagem intergaláctica. Solange atingiu seu objetivo: Escrita labial se completou, descrevendo um traço, uma senda sinuosa e estreita, por onde passam poucos viajantes.

Thereza Christina Rocque da Motta,
poeta e editora,
Membro da Academia Brasileira de Poesia
e do PEN Clube do Brasil

orelha para o livro Escrita labial, de Solange Padilha, 

publicado em dezembro de 2014