sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Retas oblíquas, de Roberta Lahmeyer

TUDO começa aqui. A divisão do neoconcreto constrói a luz do poema. Traçamos uma reta ascendente em direção às palavras. As palavras escutam e tudo é poesia. “Me permita ser um pouco abstrata”, diz Roberta Lahmeyer, porque de concreta basta a vida. “A arte existe porque a vida não basta”, disse Ferreira Gullar. Por causa dos poetas, descobrimos planos ainda não visitados por aqueles que vivem sem poesia no seu dia a dia.

Olhar faz parte da descoberta poética, transpor para a palavra tudo o que é estranho. Escrevemos para descobrir. Não para dizer. Escrevemos para descrever a órbita do planeta. Tudo é oval, senoide, eclipsar. Roberta olha de novo e desvê. A mesma forma serve para todos os tecidos: “...a poesia atravessa a matéria e ilumina certos subterrâneos”. Entendi porque li, li porque vi, vi porque encontrei, encontrei porque busquei. Os olhos estão no presente e no futuro, a poeta espera o céu descer sobre sua cabeça “a dez centímetros”.

TUDO em poesia tem que ser uma descoberta. Como ler pela primeira vez. Como ver pela primeira vez num poema algo que não estava lá, mas está em alguma parte do ser. Dizer, redizer, desdizer, subentender o possível. Caminhamos. Caminhamos para nos tornar. Seremos o que nos transformamos. Todo livro de poesia é um jardim concreto de “pensamentos abstratos”. Observamos o essencial (invisível para os olhos). Só se vê bem com poesia. Retas e sombras oblíquas. Desvãos.

Poesia é exílio. É partida e chegada. Ver. Subverter. Onde o Eu míngua, há Você. Onde há corpos, há estar. O tempo gera a espera. Somos hoje o que há muito buscávamos ser. A luz que irradia da poesia ilumina o desfiar de palavras que se perfilam ao longo do livro em linhas oblíquas. Não só as palavras se suspendem como voltam ao ponto de partida. As palavras vão e voltam. A poesia vai e volta e se esconde no pensamento de onde não sai mais.

Thereza Christina Rocque da Motta, poeta, tradutora e editora, Membro da Academia Brasileira de Poesia e do Pen Clube do Brasil  



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Livros impressos x e-books

Temos de fazer e-books e vender só e-books daqui a pouco, porque o custo de impressão está estratosférico. A Amazon previu isso há muito tempo. Quem gosta de livro em papel, vai tê-lo ainda por algum tempo, depois vai voltar a ser artigo de luxo, como era na Idade Média. Seria ótimo fazer novamente livros com iluminuras, à mão. Mas a Xerox inventou o livro digital que imprime por demanda. Estocar para vender não é a chave para o sucesso e, sim, imprimir o que foi vendido. Jeff Bezos faz isso na Amazon. O esquema é híbrido ainda, meio papel, meio digital. Vai nos custar muito para conseguirmos digitalizar tudo, mas já somos meio digitais. Um apagão vai sumir com tudo. Igual ao vídeo que recebi pelo zap. A quarta revolução industrial, a da era digital. Já imaginou ser diagnosticado por um robô e ter um advogado virtual que nem o atendente da Net? Com 60.000 homícidios no Brasil, mais do que todo o resto do mundo somado é para se perguntar o que será de nós.

1/02/2018 - 11h09