Ted Roosevelt dizia ser parte de tudo o que leu e, naturalmente, tudo o que havia lido fazia parte dele. “Leia muito, mas não livros demais”, já aconselhava Benjamin Franklin, que devia enxergar nos livros algum excesso de ideias. E Abraham Lincoln, mais pragmático, disse: “O que quero saber está nos livros; meu melhor amigo é aquele que me dá um livro que ainda não li”.
A memória, o primeiro celeiro do pensamento humano, é a grande arma para vencer o tempo. Ao passar nosso pensamento para as páginas de um livro, fazemos algo mais do que preservar a história e os fatos: mantemos vivos quem os escreveu. Assim, todo livro tem uma vida própria, por quem o escreveu e para quem o lê. O tempo só volta a se mover ao abrirmos as páginas desse livro. Ali estão preservados todos os sentidos de quando foram escritos: até o vento sibila nas folhas, e as ondas repetem seu som; tudo se move dentro dos livros que lemos.
A vida dos livros é a que tomamos emprestado quando mergulhamos naquilo que lemos. Seja ficção ou não-ficção, um livro técnico ou autoajuda, um livro cumpre uma função única: trazer o antigo, revelar o novo, familiarizar-nos com aquilo que não conhecemos. Fazemos imensas descobertas só de folhear um livro. Os olhos procuram algo inédito e logo encontram.
Para quem gosta de ouvir histórias, a palavra é sempre bem-vinda. Ler para alguém é um santo remédio.
“Bons amigos, bons livros e uma consciência limpa: eis a vida ideal”. Mark Twain equilibrava os melhores elementos para uma existência pacífica. Já Voltaire, mais perspicaz, avisava: “Apenas os amigos roubam os seus livros”. O que é um livro subtraído ou nunca devolvido?
A vida se encerra num livro como a gema e a clara dentro do ovo. Sem abri-lo, nunca poderemos desfrutá-lo. “Há uma grande diferença entre um homem ansioso que quer ler um livro e outro cansado, que quer um livro para ler”, lembrava G. K. Chesterton. Compartilhamos com os livros os nossos melhores momentos, a nossa maior intimidade. Ler escondido faz parte dessa vida secreta dos livros. Livros se escondem na estante, ficam invisíveis entre os outros, só para serem reencontrados.
“Não conheço nenhum problema que uma hora de leitura não consiga aplacar”, vaticinava o Barão de Montesquieu. Desde que surgiram, os livros acompanham os homens em suas lides e suas batalhas. O Marquês de Maricá não deixava por menos: “A paixão da leitura é a mais inocente, a mais aprazível e a menos dispendiosa”. Economizar tostões está na ordem do dia para quem prefere ler. Um livro serve de diversão por muito tempo. Nada de prazeres fugazes. Devemos procurar valores permanentes.
“Podemos viajar por longas distâncias apenas lendo livros”, escreveu Andrew Lang, poeta, romancista e crítico literário escocês, falecido em 1912. Quem nunca foi à China que já não se imaginou caminhando pela Grande Muralha? Aquilo que não vemos sente-se aguçado pelos ouvidos a imaginá-lo. E ao descrevê-lo, damos a possibilidade de visão a quem não vê. É possível experimentar mesmo sendo apenas um bom ouvinte.
“A vida só é possível reinventada”. Cecília Meireles reinventava a cada poema, a cada crônica que escreveu. E não há outro modo de reinventar a vida, senão através de um livro.
O livro que escolhemos é o guia, o farol, a pedra fundamental de todo conhecimento, de todo saber, de todo aprendizado; é por ele que passam os grandes homens; por ele onde começam as crianças; por ele que se educa e se aprende; por ele encontramos o caminho das conquistas.
Seja qual for seu know-how, o livro possui o condão de devolver o que foi perdido, de encontrar o que se buscava, de dizer o que nunca foi dito, de lembrar o que se esqueceu. Busque um livro como se busca um amigo. Mesmo que este lhe diga, como Shams disse a Rûmî, arremessando todos os livros ele que carregava ao chão: “Está na hora de viver tudo o que já leu”.
Ler nos ensina a saber o que é mais importante. Tudo o que lemos permanece conosco, mesmo que não lembremos. Mas a mente guarda a relíquia da leitura como uma visão inesquecível.
Rio de Janeiro, 19 de maio de 2010 – 22h52