Foto: Paulo Batelli
O livro deve estar ao alcance da mão, quando não está em nossa memória.
O convívio com o livro é um hábito que se renova a cada página,
como se ler fosse muito fácil e assim se torne à medida que lemos.
Ler aos poucos cria fôlego para se ler mais,
até não saber quanto se consegue devorar com os olhos.
Tudo é minuciosamente escrutinado,
à procura de sinais, baixos-relevos,
inscrições apenas palpáveis, adivinhadas entrelinhas.
Ler algo que nos soa correto, descortina um novo horizonte.
Olhamos detidamente para o que descobrimos.
É inaugurado um novo princípio
e passamos à leitura seguinte mais sábios e mais ávidos.
Livros podem ser olhados ao acaso,
como se folheássemos algo que não nos pertence,
mas subitamente pode passar a fazer parte de nós.
E, uma vez que desvendemos esse segredo, jamais o perdemos,
porém, só o compartilhamos com quem também já o desvendou.
O hábito da leitura tem de se instalar aos poucos.
Nada aos saltos perdura.
Para fazer sempre é preciso constância, passos lentos para se ir mais longe.
Ler apenas o que nos agrada, acostumar o olho à página,
até que se aprenda a suportar qualquer texto e saber recusar um só ao vê-lo de relance.
Não devemos nos forçar à leitura.
A leitura não prazerosa se torna automática. Nada fica.
Impossível reter qualquer palavra.
Ler durante o tempo que se tolera, imerso no texto,
como um peixe – nadar até ficar exausto.
Tentar ler o que nunca se pensou gostar.
Inaugurar novos caminhos.
Cada leitura conduz a um destino não planejado.
E ao alcançá-lo, acreditar que não havia melhor lugar para se estar.
O livro é feito não apenas para os olhos, mas para o tato.
Tocá-lo faz parte da leitura.
Saber que o que emana dele recende a jasmim ou sândalo.
Deixamo-nos seduzir pelos sentidos.
Um livro é sempre um objeto de toque.
O olho percebe o que as mãos já sabem.
E, ao saborear as palavras, sente-se repleto.
Rio de Janeiro, 21 de março de 2010 – 15h27
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