Certos fatos, por vezes, passam
despercebidos, e este quase me escapou, não fosse a minha famigerada mania de
fazer coisas impulsivamente e, de repente, constatar que fiz algo importante,
sem saber.
No dia 4 de
janeiro, comprei O Estrangeiro, de
Camus, que já tinha lido em inglês e que encomendara na Livraria da Travessa,
para uma pesquisa que pretendo fazer, eis senão quando, li hoje em O Globo, na crônica do Dapieve, sobre a
vinda de Camus ao Brasil em 1949, esta ser a data da morte de Camus, num
acidente de carro, em 1960, na França.
Rewind. Há alguns anos, encontrei no sebo
Luzes da Cidade, em Botafogo, um livro de fotos de Camus, numa edição especial,
que se “dava” ao cliente que comprasse um livro da coleção Pléiade, porém, este
volume estava sendo vendido a R$ 50,00 e eu, sem titubear, comprei-o
imediatamente, sem nem saber por que estava fazendo isso.
Passados poucos
anos, enquanto editava um livro que mesclava vários trechos de história
contemporânea, a morte de Camus foi mencionada num texto retirado de uma página
da internet, em que dizia que o escritor francês havia morrido num “acidente
viário”. Ponto de interrogação. Eu que, até então, desconhecia a causa mortis do meu dileto Camus (antes
mesmo de saber por que tão dileto), corrigi: “acidente aéreo”, considerando “viário”
como se fosse de “aviação”. Confusão minha.
Dormi e acordei
no dia seguinte sozinha em casa e, na hora de tomar o café da manhã, peguei da
estante o tal livro de fotos de Camus que havia comprado no sebo, para olhá-lo
pela primeira vez e, ao folheá-lo, deparei-me com a foto do carro em que
viajava Camus estraçalhado contra uma árvore. Aí compreendi tudo: o “viário”
era de “viação”, o texto provavelmente havia sido escrito em Portugal e meu
autor havia copiado aquele texto sem corrigir, restando a mim, pobre editora,
entender mais de Camus do que entendia.
Isso só para
mostrar que, quando se edita um livro, os assuntos saltam à nossa frente, e não
é a primeira vez nem a segunda que isso acontece. Isso ocorre sempre. Toda vez
que lidamos com um assunto num livro, as palavras e temas acorrem inesperadamente,
seja em outro livro, num artigo de jornal ou entrevista de televisão. É
impressionante.
Aprendi sobre
Camus por Camus mesmo, e agora aconteceu novamente. Ele veio ao meu encontro
nos 50 anos de sua morte, sem que eu o soubesse, carregando o único livro que
li dele, nessa homenagem póstuma, ele que recebeu o Nobel no ano em que nasci,
em 1957. E o fascínio por este James Dean intelectual, como o chamou Dapieve,
este pied noir existencialista,
continua desenfreado. Até eu entender por que ele me chama para ouvi-lo, e eu o
atendo.
O exemplar de O Estrangeiro, que li em inglês,
encontrei na deliciosa biblioteca de meu amigo Pedro Lage, que tem livros que
só vi ali e ele gentilmente me empresta, sabendo que irei devolvê-los (como
fiz). Achei o texto inebriante.
Mesmo não tendo
lido mais nada de Camus até hoje, sei que haverá um momento para lê-lo. O livro
espera.
Rio
de Janeiro, 15 de janeiro de 2010 – 9h00
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