Nascer é difícil. Deixar que o livro tome forma é difícil.
Abandonar-se à força de seus poemas e permitir que eles se moldem por si sós é
difícil. Acreditar que o destino do livro esteja traçado e que apenas damos à
luz o que já “está pronto” é praticamente impossível. Saber que, não importa o
que façamos, não acrescentamos nem retiramos nada do que é, mas o construímos
incessantemente até que esteja terminado.
Assim foi desde o primeiro poema que Adriana me
entregou para ler, “Aprendendo a morrer”, onde ela começa com seu bordão à la
Maiakovski, “Morrer não deve ser difícil”, iniciando ali mesmo o processo de
edição, que culminou na publicação deste único (sic) livro de sua vida.
Imponderável, pois na deificação de si mesmo não encontramos todas as
respostas.
Não somos oniscientes, no entanto, o livro se sabe
antes que o saibamos. Incompletude. Lágrimas e palavras justapostas, aprendendo
a cada dia. Esquecer os pecados. Perdoar-se. Perdoar. O mais difícil.
Depois morrer fica fácil. Pois difícil é aceitar o desafio
de se expor, lágrimas e palavras trazidas às páginas do livro, para se traduzir
ou pedir uma tradução: “Leiam-me e digam por si mesmos, se o mais difícil não é
viver?”
Thereza Christina Rocque da Motta,
posfácio para Pianos invisíveis,
de Adriana Monteiro de
Barros (Ibis Libris, 2008)
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