Quem ama sem
dizer adeus? Somente aquele que insiste. Somente o que se pega órfão de um amor
maior, e sai em busca de sua completude. Não aceitar o não como resposta, e
dizer para si mesmo que é capaz de amar além da medida, desmesurado amante de
todas as coisas lindas – se amar nos completa e sacia, o adeus não faz parte de
sua filosofia.
Cristina Biscaia é poeta por insistência. Ela não abdicou de escrever
seus poemas e depois mostrá-los, como sinal de permanência. Ela insistiu por
longos anos, para hoje vir, de cabeça erguida, e dizer: “Eis o que escrevi”.
Tornou-se amante incondicional de sua poesia e sua poesia dela. Seu modo
próprio de dizer, sem ofender ninguém. O poeta, por excelência, vive a par das
coisas sem perturbá-las. Conta piada sobre si mesmo e cai na risada. Depois
chora, porque “o amor dói”, e é a cura para o próprio amor.
Cristina é o corpo de sua poesia. Por ela, passam os pensamentos que se
coisificam, se materializam, como histórias antigas e revividas, memória,
passado, presente, todos misturados. É o cotidiano, a peregrina de si mesma, o
tempo, as contradições, alquimia, amor à arte.
A poesia se torna palpável na leitura. Vemos o verbo apresentar-se
inteiro, como pensamento íntegro, palatável. Sonhar, muitas vezes é complexo. E
para encontrar o verso, é preciso lapidar, até que reste só o poema de tudo o
que foi vivido.
Na turbulência de suas idas e vindas, há um lugar aonde o viajante chega.
E esse lugar é a poesia.
Thereza Christina Rocque da Motta
Orelha para o livro Peregrina, de Cristina Biscaia (Ibis Libris, 2011)
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