O começo de uma
história se assemelha a um nascimento: compreender o
mundo é função do ser humano, esta espécie em extinção. Buscar nos animais
nossa contraparte divina é a forma mais simples de se conhecer. De todos os
mamíferos, o maior deles é a baleia – este ser aquático como os botos-tucuxis
que emergem para atrair os homens de volta às águas. A natureza humana é
celestial e aquática. Tanto os céus quanto os mares nos fascinam e nem sabemos
por quê. A baleia é a voz da Mãe Terra. A Terra que sobrenada em dois
terços de água, é o macrocosmo de nosso corpo aquoso. Os dias são líquidos e
escorremos sobre eles como placas tectônicas sobre o magma. Compreender,
compreender tudo, é o destino dos homens. Destino, missão, fado. Aos mares
lançaram-se os portugueses em busca de horizontes. Sua terra tão franzina fez com
que quisessem conquistar o mundo. É o mesmo que fazem os homens em sua ânsia
pelo mar. Um amor deve alargar – alargar
horizontes, alargar vidas, abrir portas, enseadas, baías, descer rios,
encostas, enfrentar abismos, escalar montanhas, quantas descobertas, meu Deus!
São todas essas descobertas que fazem parte do mundo de Bárbara, que, até pelo
nome, já nasceu desbravadora. Por que a escrita, por que os sentimentos, por que
as bombas, por que as guerras, por que as causas humanas, por que tudo isso que
faz parte da vida? São muitas as línguas e os alfabetos existentes no mundo, mas se todos
são provenientes da mesma raiz, a língua comum existente é o amor. O
amor é a maior descoberta. Para isso vivem os homens – para amar e ser amados –
e descobrir o preço desse amor, nem que seja à custa de muito sofrimento. A
redenção de todas as dores, pelo renascimento nas águas, de onde vieram,
certamente.
Thereza
Christina Rocque da Motta, apresentação ao livro “Bárbara e a baleia”, de
Flavia Muniz Cirilo, Multifoco, 2010
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