sábado, 17 de junho de 2023

Ainda sobre "livros" para colorir

Grande e complicada seara essa a dos “livros” para colorir. Por mais que vendam a rodo, porque são cadernos de distração como tínhamos na infância (pelo menos eu tinha), são o que garantem o pro labore dos editores (para quem já começou a imprimi-los), como já foi a “maldição” dos best-sellers que roubam o cenário editorial internacional. Hoje só vendem livros “estrangeiros”, bem ou mal traduzidos, mas que não refletem o que se escreve e se publica em português legítimo. Eu vejo a lista dos 10 mais vendidos e choro.

Há 30, 40 anos vendiam-se livros brasileiros, hoje só “estrelas” do mercado mundial, que também puxa essa coisa de “colorir”. Eu jamais perderia meu tempo colorindo nada, como não o fiz na infância, proibida por minha mãe de preencher espaços vazios num desenho já feito, pois ela, como arquiteta, acreditava que eu tinha de fazer desenhos à mão livre, meus próprios desenhos e não colorir os outros. Resultado, nunca desenhei nada, só aprendi a escrever e faço isso bem até hoje.
A “essência” ser mantida, mas é um tsunami que temos de enfrentar. Cada um faz a sua avaliação e sua reflexão. Já me ofereceram fazer um “livro para colorir” e ontem mesmo estávamos pensando em alternativas, como livros com poemas para colorir, com letras vazadas, mas COM TEXTO. Para mim cadernos para colorir não são livros, pois dizer livro para ler é uma redundância. Mas o mercado faz tudo para sobreviver e descobre os pontos falhos do mercado e ataca.
É uma postura pessoal e não de um grupo. Quem já achou seu pote de ouro vendendo cadernos para colorir, que qualquer um de nós pode vir a fazer (não custa nada e “salva” as contas), ótimo, não precisa se constranger com quem optou em não fazer o mesmo, por questão de princípio ou coerência, mas o cliente está doido para comprar qualquer coisa que o distraia. Se não são mais livros para ler, serão livros para colorir. Ficamos entre o fogo e a caldeirinha.

17 de junho de 2015 - 14h23





domingo, 16 de maio de 2021

Sempre sobra para o editor

Realmente os tradutores deveriam traduzir e os revisores revisar, mas não é isso o que acontece. Sorte que o editor vem depois deles e pode terminar o serviço por eles, pelo menos eu posso. Nunca se deve pedir um serviço a alguém que não se possa fazer sozinho, a não ser serviços elétricos e cirurgias. Se mando fazerem uma comida, devo ser capaz de prepará-la também. Senão não poderei corrigir se sair errado. Acontece o mesmo com o livro. Tenho que ser capaz de fazê-lo como o autor, o revisor e o tradutor devem fazê-lo. Como o autor para compreender o que ele escreveu, respeitar e corrigir se necessário. Como o tradutor e revisor para retificá-los quando for preciso. Senão o editor acabará publicando o pior livro, que nem o autor, nem o revisor, nem o tradutor souberam fazer. Quando o livro é bom, elogiam o autor. Quando o livro é ruim, o editor é que não presta. 

16 de maio de 2019 



sexta-feira, 2 de abril de 2021

Michael & Eu

Michael Jackson sempre foi reconhecido como um excelente cantor e dançarino e também compositor. Criou momentos inesquecíveis com "Billy Jean", fazendo seu Moonwalk, ou reunindo amigos para cantar "We are the World", na década de 1980. Desde pequeno, marcou a nossa vida, até morrer, repentinamente, em 25 de junho de 2009, às vésperas da estreia do seu "This is it!", aos 50 anos de idade. Ninguém esperava (nem poderia esperar) por isso. 

Um dia antes da morte de Michael Jackson, eu tinha lançado, no Rio, uma edição com uma nova tradução de "Carmina Burana", no dia de São João, na antiga Livraria Leonardo Da Vinci, no centro da cidade. 

No mês seguinte, houve três apresentações gratuitas de "Carmina Burana", de Carl Orff, no teatro da Escola de Música da UFRJ, durante um fim de semana, e me convidaram a lançar o meu livro recém-lançado lá. Ali eu conheci Lilian Bosboom, casada com um americano, que era o técnico de luz, durante o espetáculo, lindíssimo, com coral e balé. 

Em dezembro, ela me ligou dizendo que, em outubro, havia conhecido, durante uma peça de teatro, um DJ, Leandro Lapagesse, que fazia o som, que tinha ido ao enterro de Michael e estava escrevendo um livro sobre a influência do cantor na vida dele, e que iria se chamar "Michael & Eu" (como o livro "Marley & Eu", que traduzi em 2006, para a Ediouro). Quando soube que queria publicá-lo, Lilian se lembrou de mim, e resolveu me ligar para saber se eu poderia avaliar o texto e ver que tipo de revisão ele precisaria. 

Depois dessa ligação, eu tive um sonho com Michael Jackson, em que eu estava em Neverland, em uma reunião, num átrio de chão quadriculado, com uma fonte no meio, e Michael dançava em volta, com o som de crianças brincando ao fundo, que estavam em outra sala. Ele deu uma volta completa e me olhava pelo canto dos olhos. Eu nem podia imaginar o que isso queria dizer.  

Lilian ligou novamente marcando o encontro para janeiro de 2010 e eu lhe contei o sonho. Ela pensou que eu fosse maluca, mas não me disse nada.   

Fui ao apartamento do Leo para conhecê-lo e ler o texto que queria publicar. Ao chegar, começamos a esperar pela Lilian, que participaria da reunião. Para me entreter, ele colocou um vídeo de um show no Japão, e enquanto não começava, tocavam o trecho inicial de "Carmina Burana". Eu perguntei ao Leo, por que estava tocando aquela música e ele me explicou que Michael usava "Carmina" para aquecer o público. Nesse momento, eu não me dei conta da coincidência. Eu conheci Lilian num espetáculo de "Carmina Burana". Este era o elo de ligação entre ela e Leo que iria me apresentar um livro sobre ele e o cantor. 

Para fazer sala, Leo começou a me mostrar algumas peças de sua super coleção de objetos sobre Michael Jackson, que enchiam a casa. Entre bonecos, discos, pôsteres, ímãs, cartazes, Leo me mostrou dois livros: um era a autobiografia de Michael, escrita quando o cantor ainda era novo e outro, um livro de "Poemas e reflexões", chamado "Dancing the Dream", prefaciado por Elizabeth Taylor. Naquele instante, eu não fiz a associação de que era exatamente o que ele tinha feito: dançado no meu sonho. Mas, quando vi que o livro tinha poemas, eu disse: "Quer quanto que este livro está disponível?"

Leo se surpreendeu com o que eu disse, e respondeu: "Jura? Mas deve ser caro!" Eu disse: "Não, já se passaram sete meses da morte dele. Se ninguém publicou, é porque não sabem que o livro existe. E depois são poemas, quem é que sabe traduzir poesia? As grandes editoras não fazem isso. Custa o mesmo preço de qualquer livro que ninguém quer: mil dólares". 

Ele achou pouco e disse: "Mil dólares? Se for isso, eu quero fazer parte disso também". Eu procurei o nome da editora no livro, anotei, descobri o email e entrei em contato com uma das maiores editoras americanas, que detinha os direitos autorais de Michael Jackson. 

A resposta à minha oferta de mil dólares foi quase cômica: "Você quer ESTE livro?" Eu disse: "Sim, ele está disponível, não está?" Ele respondeu: "Você me dá duas semanas para responder?" Respondi: "Sim, mas não se esqueça que fui eu quem pediu primeiro". Dois dias depois, ele retornou com uma contraproposta: "Mil e quinhentos dólares". Eu disse: "Fechado". E assinamos o contrato. Detalhe: foi a primeira tradução desse livro no mundo. Até então, ninguém tinha comprado os direitos de tradução de "Dancing the Dream". 

Leo não cabia em si de contente. Ele iria dividir comigo o direito de publicar o livro de Michael Jackson no Brasil e arcar com metade dos custos, inclusive da impressão de 1.000 exemplares. Era o começo de uma saga que só concretizamos no lançamento do livro, no aniversário de Michael, em 29 de agosto de 2011, na Livraria Saraiva, com a presença de atores globais lendo trechos do livro, um conto, uma fábula, um poema, uma história, um depoimento. 

Eu levei sete meses traduzindo, entre fevereiro e setembro de 2010. Em agosto, fizemos a festa de 10 anos da Ibis Libris, comemorando a compra dos direitos autorais de tradução e publicação de "A dança dos sonhos", nome que escolhi para o livro, com a presença de Nikki Goulart, cover de Michael Jackson. 

Na verdade, eu fui à casa de Leo para descobrir o livro de Michael que ninguém conhecia, só os muito fãs e aficionados por Jacko. Enquanto eu traduzia (isso virou notícia muito rápido, porque eu tinha furado todo mundo), me perguntavam se ele escrevia bem. Se ele sabia fazer tudo muito bem, por que ele não escreveria bem? Eu respondia que as pessoas iriam se surpreender com o que ele escreveu. (Uma das histórias que mais gosto é "O peixe que sentia sede". Foi muito divertido traduzi-lo. Sim, ele escreveu o livro muito bem.)

Recebi propostas de várias editoras tentando comprar o texto para publicá-lo. A Revista Caras me ofereceu R$ 1 milhão para fazer a sua edição como brinde para os assinantes para 1 milhão de exemplares. Eliana dos dedinhos também queria fazer o livro. Só que eu tinha que fazer a minha edição de qualquer jeito. Ninguém me pediu para ver o texto traduzido, viram apenas o livro original. E provavelmente por não entenderem nada de poesia nem de Michael Jackson, quem levou a proposta não soube defendê-la. E eu e Leo fizemos a nossa edição sozinhos. 

O livro vendeu e se pagou. Mas não houve lucro de R$ 1 milhão. Para isso, teríamos que imprimir muito mais. Naquela época, dois anos depois da morte de Jacko, teria sido um sucesso muito maior se uma grande editora tivesse investido no livro. Porém, coube a mim, uma pequena editora traduzi-lo e publicá-lo. 

Até hoje se surpreendem de que Michael tivesse escrito e publicado um livro, lançado no programa da Oprah Winfrey. No entanto, pouco depois do lançamento, veio o primeiro escândalo com as crianças. O livro foi boicotado pela imprensa. Por isso caiu no esquecimento. Fizeram uma nova impressão em Londres após a morte dele. Mas no Brasil muita gente ainda não sabe que ele escreveu esse livro e nem que foi traduzido e publicado aqui. A imprensa aqui também não divulgou mais, quando poderia. 

Há alguns anos, fui entrevistada pelo Claufe Rodrigues para o programa Globonews Literatura, e ele me perguntou qual tinha sido um grande momento da minha pequena editora. Eu disse: lançar o livro de Michael Jackson. Foi uma empreitada de gente grande, num momento em que o dólar estava a R$ 1,50. Isso tornou possível o meu sonho de publicar Michael Jackson se tornar realidade. 

No fundo, eu senti que Michael me escolheu, a dedo, para traduzir o livro dele, pois além do sonho que tive, houve uma sucessão de fatos e coincidências que me levou até o livro. Depois, Leo Lapagesse estreou sua peça "Michael e eu", com Nikki Goulart. As pessoas iam às lágrimas, porque ele personifica Michael tão bem, que você jura que está diante do próprio Michael Jackson. 

Na festa de aniversário de 10 anos da editora, eu tive meu momento de "Michael e eu" ao lado de Nikki Goulart. Foi um lindo aniversário, no 00, na Gávea, no dia 18 de agosto de 2010. A peça, por coincidência, estreou, dois anos depois, no Teatro do Leblon, em 17 de agosto de 2012. 

2/04/2021 - 22h20







 

sábado, 26 de setembro de 2020

Fazer livros não é para os fracos

Um livro não é só seu autor e não é só a edição. Ambos devem estar conjugados da melhor maneira para o resultado ser bom. Eu não entendo um livro só gráfico, sem conteúdo. E não entendo um livro bem escrito e mal editado. Dá dó só de olhar. Há projetos gráficos que se superam, mas percebo que dão mais importância a isso do que para o livro em si, em alguns casos. Não sabem o trabalho que deu para o texto ser terminado. Quanto durou a revisão, o que entrou em questão até a redação final do livro. Veem só pelo lado de fora. 

Uma vez chamei a atenção do meu designer que estava junto no lançamento, para quanto o livro estava sendo elogiado por fora. Eu comparei à construção de uma casa, em que só elogiam o exterior. Por trás da tinta da parede, há muitos tijolos e cimento. Muitos canos e ligações elétricas. Toda uma engenharia para fazer a casa funcionar desde a sua fundação. Como filha de arquiteta, e irmã de engenheiro, entendo bem de construções. Mas aplico isso aos livros, como ele é tecido, urdido por dentro. Só quem o faz sabe quanto ele significa. Como ele foi feito. Como foi concebido e finalmente produzido. O livro fica lindo por fora, mas por dentro, tem que estar igualmente belo, bem diagramado, bem escrito, bem revisado, senão todo o trabalho se perde. 

Fazer um livro feio custa o mesmo que fazer um livro bonito. Mas um livro caro não quer dizer que vá ficar lindo. A qualidade não está só no papel e na tinta (mas até esses têm que ser bons também). Está na criação desse livro como algo individual. E aí passamos à transcendência. O livro sabe o que quer. Como ser existente, também pensa e sabe e se faz compreender. Quem lida com livros, descobre que eles têm sua forma de se comunicar, de dizer o que querem. Tenho um sem-número de histórias nesse sentido. Fazer livros não é para os fracos. Ou como diria o avô de um editor que conheço, fazer livros é para profissionais. 

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2020 - 15h07 

 


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

O mistério do erro que volta

Em publicação de livros, eu já vi de tudo. Já escrevi dois livros a respeito. Desde autor que desiste do livro na hora de imprimir, àqueles que nem começam com medo de errar. No mundo literário tem de tudo, mas o caso do Volume 1, de "O Velho Oeste Carioca", de André Luis Mansur, de 2008, é assombroso. 

Este livro começou com sucesso desde o lançamento. O autor, André Mansur, já tinha andado de ceca em meca para encontrar um editor, e toda vez que mostrava o texto, achavam muito bom, tudo muito bem, mas não entraria nas prioridades da editora. 

Eu, ao contrário, gostei do livro de cara: aquilo de falar sobre a história da Zona Oeste do Rio de Janeiro era apaixonante. Tive que contornar o meu "conselho editorial", que, na época, era formada por mim e mais um sócio que achava tudo desinteressante (como este, ele desaprovou "Caymmi e a bossa nova", de Stella Caymmi e "A dança dos sonhos", de Michael Jackson, que fiz mesmo assim, e quase desaprovou o livro sobre São Jorge, que foram absolutos sucessos). Realmente, um sócio muito ruim, sem visão alguma. 

Então, fiz um trato com André Mansur para fazermos o livro em parceria e tudo seria dividido entre nós igualmente. É o livro de maior venda da editora há 12 anos. E depois vieram mais dois volumes, que continuam sendo reimpressos e vendidos da mesma maneira.  

Porém, descobrimos, nessa última reimpressão do Volume 1 do nosso querido "Velho Oeste", que alguns erros que saíram na primeira tiragem de 500 exemplares, e que foram corrigidos em seguida para a segunda tiragem, tinham voltado. Um amigo o alertou para erros de data em duas páginas, que tinham passado despercebidos na primeira impressão. 

André falou comigo e eu imediatamente fui procurar no computador onde estaria a versão corrigida que me havia escapado, e qual não foi meu espanto ao descobrir que eu só tinha a versão errada, reduplicada não sei quantas vezes, em pastas diferentes, na HD. Onde fora parar a versão corrigida? Por que esta não foi deletada e substituída pela correta, que deveria ter sido usada dali para frente, como aconteceu nas reimpressões seguintes? 

Doze anos depois (o livro está fazendo aniversário de um ciclo completo no horóscopo chinês, do ano do Rato), o erro retorna e diz: "Vocês não me pegaram". É a maldição da primeira edição, só pode ser. Por que só agora se descobriu algo que já estava sendo repetido errado (salvo os primeiros corrigidos feitos por alguma gráfica que guardou o arquivo e que depois se perdeu)? 

Vou continuar procurando o arquivo certo, porque ele não pode ter sumido, a não ser que aquele meu ex-sócio que diagramou o livro, a contragosto, descuidado, não trocou o arquivo de impressão e deixou o errado como se fosse o certo. 

"O Velho Oeste Carioca" foi um sucesso retumbante. André Mansur deu entrevista em rádio, foi capa do caderno Zona Oeste de O Globo, deu palestra, lançou o livro na antiga Livraria Arlequim, na Praça XV, e depois num famoso boteco em Campo Grande, onde chegamos depois de uma longa viagem, num sábado à tarde, em dezembro de 2008. 

Só então meu ex-sócio entendeu a importância do livro, e me disse, meio sem graça, que ele não tinha entendido direito sobre o que era o livro. Ora, ele não era carioca para entender. Também não sou, mas cresci no Rio, então eu sabia. 

Nas Primaveras do Livro, todos os "Velho Oeste" que temos vendem. Na Bienal, também. E depois que lançamos o Volume 3, quem compra faz questão de levar todos (caso não tenha os anteriores). 

Não importa, é um sucesso, mas para acrescentar um mistério a esse livro (como sói acontecer), por que o erro não foi embora? 

É um caso único. Toda vez que se troca um arquivo, que se corrige uma edição, ele é substituído e deleta-se o errado. Mas, este não. Por quê? Eu vou ter de meditar profundamente sobre o assunto, para entender por que nosso "Velho Oeste Carioca" nos passou essa rasteira. O erro tinha sido corrigido! Tanto que há impressões corretas. Mas voltar agora com o mesmo erro, como se não tivéssemos corrigido, só me faz entender que o erro é uma entidade que assombra o livro, que mesmo sendo tirado, ele pode voltar. 

É um daqueles mistérios que nem Sherlock Holmes consegue decifrar. 

Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2020 - 14h50


 

sábado, 14 de março de 2020

A correção dos erros

Corrijo erros, não autores. Corrijo textos, não escritores. Nunca disse quem errou, mas sou obrigada a emendar o erro, senão serei apontada como ignorante, não o autor, embora não ganhe o mérito pelos erros dele que corrigi. Nem devo. Quem se incomoda com isso veste a carapuça, ou não quer descobrir seus próprios erros. Nunca dei nome aos autores que erram, mas todos acabam errando de A a Z, de 8 a 80 anos. O importante é suprimir o erro e combater quem não o corrige, porém não aponto quem errou. E se, mesmo assim, prefere que eu não corrija, me poupará dos seus erros. Mas ninguém sabe quem errou, apenas se espelharam nos erros que apontei. Melhor ignorar e fazer de conta que escrevem bem. Os erros se espalham e vivemos a ditadura da ignorância, onde quem sabe se cala e consente. Prefiro ficar longe de quem não gosta de admitir que errou. E não gosta de ver seus erros apontados, mesmo anonimamente. Jamais apontei os erros de alguém, mas denunciei os erros que muitos cometem quando não deveriam cometer, se querem ser chamados de autor. Já vi semianalfabetos escreverem errado, mas os alfabetizados erram como se não soubessem escrever. Minha mãe me obrigava a falar e escrever certo. É inaceitável que escritores errem ortografia por lapso de atenção. É como ver um médico não saber usar um bisturi, ou um motorista não saber trocar a marcha. Gramática é instrumento. 

14/03/2016 - 14/03/2020



quinta-feira, 1 de agosto de 2019

A história de "Ulysses" é uma odisseia


Num dia acabou a lei seca nos EUA; no dia seguinte, o "Ulysses" foi liberado

by Denise Bottmann

a história é engraçada: "Ulysses", como todo mundo sabe, era proibido na Inglaterra e nos EUA, com queima de exemplares, multas, confiscos de edições piratas etc. - mas era liberado na frança, onde saiu em 1922.

aí uma editora americana (a Random House) teve uma ideia: comprou os direitos de publicação da obra para os EUA, e mandou importar a obra da frança, mas que escrevessem "ULYSSES" em letras BEM GRANDES no lado de fora do pacote.

o livro chegou na alfândega, os agentes alfandegários engoliram a isca e apreenderam o pacote por causa do baita ULYSSES no embrulho. era exatamente o que o editor queria, pois, afinal, o livro não fora publicado na Inglaterra nem nos EUA, e sim num país onde sua publicação era permitida; portanto, era plenamente legal. 

ele então armou o maior escarcéu, acionou a justiça, entrou com ação contra a alfândega, o escambau. teve o maior apoio de intelectuais, escritores, opinião pública em geral, e.... tchan tchan tchan, ganhou a ação e o livro foi liberado para publicação nos EUA

[vá lá que teve a sorte de que a ação caiu nas mãos de um juiz bastante, digamos, liberal, e que até ficou famoso por conta disso].

a primeira edição, depois de todo o pampeiro e com toda a divulgação da coisa, vendeu feito pãozinho quente, e assim se sucederam as várias reedições da obra.

[mas a coincidência também é verdade: a lei seca [estabelecida pela 18a. emenda] caiu no dia 5 de dezembro de 1933 [com a ratificação da 21a. emenda], e a proibição de Ulysses caiu no dia 6 de dezembro de 1933, por decisão em Nova York.]

imagem de capa da primeira edição legal nos EUA, em 1934.