quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Escreva, escreva, escreva...

...e me volte daqui a vinte anos, disse Mário Quintana a um poeta novato. Monteiro Lobato também advertia: "Não se precipite para publicar seus versos. Guarda-os até ter certeza de estarem maduros", aconselhou a outro jovem que lhe mostrou seus poemas. Essa paciência nem todos os autores têm. De esperar que seu fruto esteja no ponto, mas os escritores tarimbados sabem que é preciso esperar para que o livro se "apronte". Antonio Torres dá outro conselho: "Não fale sobre o que está escrevendo, senão você se desincumbe falando e não escreve nada".
Todos eles sabem o que estão dizendo, e também seus editores. Publicar um livro imaturo é pecar contra si mesmo. Um livro não tem culpa da pressa de seu dono. Ele antes caminha no seu próprio tempo. Tem um andar todo seu, de coisa que sabe a que veio. E se o apressarmos, ele se vira contra nós. Quanto tempo espera um livro para ficar pronto! Por vezes, décadas, como temos visto. Mas escrevê-lo é parte do esquema. A outra ponta é revisá-lo. Há erros que ficam ocultos e não os percebemos. Só muito tempo depois é que "saltam" aos olhos. A sorte é pegá-los antes que virem "gralhas" ou "sacis-pererês", como gostava de chamá-los Lobato.

Um erro num livro estraga-o todo. Só pensamos nele, em mais nada. Nem percebemos que é apenas um em meio a não sei quantas palavras certas. Depois de publicados, não podemos mais consertá-los. E conviver com eles é um suplício. Só nos resta aceitá-los e seguir em frente, e fazer tudo para que, da próxima vez, tenhamos a calma e a visão de águia para não deixar passar coisa alguma. Revisores, cuidado. Nem sempre sabemos o que estamos fazendo - é preciso uma sabedoria de monge para ponderar uma revisão e ver em profundidade, não apenas a superfície do texto.

Eu tenho certeza absoluta que já fui monge copista, daqueles que ficavam na biblioteca copiando livros, traduzindo outros, ou até sonhando os seus versos. Ainda posso sentir o frio das paredes úmidas protegendo-nos do inverno do lado de fora. Livros preenchem uma vida. Escrevê-los, revisá-los, editá-los, imprimi-los. Fazer isso toma todo o nosso tempo: e o que sobra, passamos lendo outros livros, ou pensando em novos ainda não escritos, ou aqueles que gostaríamos de traduzir.



Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2009 - 23h05
Dia Mundial do Tradutor

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O escritor viajante

Ontem fui ao lançamento de meu compadre Luiz Fernando Ruffato que publicou seu "Estive em Lisboa e lembrei de você". Conheço Ruffato desde antes da edição de seu primeiro livro. Antes mesmo de ele pensar em escrever os contos e o romance que o tornaram célebre, eu já conhecia suas viagens, seus causos, as histórias de sua Cataguases, o modo envolvente de narrar suas descobertas, que nos mantinha cativos por horas em seu apartamento, no edifício onde éramos vizinhos em Perdizes, São Paulo, na década de 90.
Todo encontro era uma sucessão de surpresas e não saíamos de lá sem ficar espantados e dar umas boas risadas. As viagens, então, eram antológicas. Ele é a melhor mistura de amigo, confidente, poeta, prosador e jornalista que eu conheço. Tudo para ele vira uma narrativa densa e vertiginosa. E inesquecível.
Os aniversários, festas de Natal e final de ano eram uma farra, com uma boa garrafa de vinho e muitas novidades. Mas Ruffato escrevia em segredo. Só me mostrou um dia a sua poesia - que partilhou comigo por sermos da mesma família poética, a neosimbolista. E nada mais disse.
O modo mineiro de não revelar antes do fato, fez com que viessem os contos, depois o romance e os prêmios. Daí para frente, tudo mudou, mas Ruffato continuou o mesmo, o mesmo compadre, um incentivador constante, e um amigo, mesmo distante.
Lembro da viagem que ele fez a Portugal com Cecília, minha comadre de quem tenho muitas saudades. E vejo neste livro essa Lisboa voltar a partir das histórias que ele nos contou ao regressar.
Faz-me lembrar de livros de viagem de outros escritores também famosos, descrições de paisagens que só o escritor vê - o que me faz refletir sobre os lugares, essas cidades das quais nem conhecemos os construtores, mas sabemos quem foram os autores que ali viveram.
As cidades, mesmo depois de desaparecerem como Troia ou Babilônia, ainda existem nas vozes daqueles que as descreveram. As cidades vivem por meio de seus escritores, como eram, como foram um dia. A Paris de Proust está em seus livros. A Roma de Oscar Wilde, James Joyce, de Shelley e Keats, a Florença de Rilke. É possível visitá-las por meio desses escritores viajantes que emprestaram seus olhos para que víssemos as paisagens que só se descortinaram diante deles.
Se quiser fazer um trajeto de viagem, procure os percursos de antigos moradores e visitantes. Siga os passos de Hemingway pela Paris do entre-guerras e depois ao vê-la libertada. As festas na casa de Gertrude Stein que reunia toda a inteligência da época em seus salões, de Fitzgerald a Pound.
Para conhecer um local, conheça aqueles que se puseram a escrever sobre os lugares que viram. Como eles, Ruffato trouxe Lisboa de volta até nós, contando a história de quem vai até lá para mudar de vida. E, certamente, ler um bom livro faz-nos ver a vida de modo diferente.
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2009 - 10h53

domingo, 20 de setembro de 2009

Publicar ou não publicar

A vontade de publicar seus versos e suas memórias nasce com o homem. A certa altura da vida, ele tem necessidade de deixar um legado para aqueles que virão. Desde o tempo das cavernas, os homens contam suas histórias, deixam seus rastros e inscrições, inventaram as letras para inscrevê-las, e a narrativa toma forma para atravessar o tempo em papiros, em pedras, pergaminhos, iluminuras e páginas impressas de um livro.
A satisfação de deixar o legado escrito é insuperável, como deixar filhos, edifícios e obras de arte. O músico também quer deixar um livro, um pintor, um escultor, idem.
Publicar-se, a palavra já diz, é tornar-se público, difundir-se, abrir os flancos para o conhecimento dos outros. E o que se torna público, pode ser perpetuado, na memória e em outros livros.
Safo, apesar de ter tido sua obra destruída, permaneceu em fragmentos e citações de outros autores, que reverenciavam seus poemas.
A palavra, mesmo mínima, repercute por todo o tempo, enquanto for pronunciada.
Rio de Janeiro, 20 de setembro de 2009 - 11h49

sábado, 19 de setembro de 2009

De Felipe Pena

"Em literatura, entretenimento é a sedução pela palavra escrita. É a capacidade de envolver o leitor, fazê-lo virar a página, emocioná-lo, transformá-lo".

Felipe Pena é escritor, professor da UFF e autor de 10 livros, entre eles, "O analfabeto que passou no vestibular"
(Desserviço à leitura, sábado, 19/09/2009, Caderno B, p. 3)

O que aprendemos nos livros

Novo Dan Brown bate recorde de vendas
O Estado de S. Paulo - 18/09/2009 - Por Ubiratan Brasil
Em apenas um dia, um milhão de exemplares vendidos nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido - com poucas horas de vida, The Lost Symbol, primeiro livro do americano Dan Brown desde 2003, tornou-se o romance para adultos e em capa dura que mais vendeu naqueles países em um único dia. "É um fato histórico", comentou Sonny Mehta, presidente da editora Doubleday, filial da Random House e responsável pela edição do novo best-seller do autor de O Código Da Vinci.

Isso prova, por números, quanto as pessoas gostam de ler, e leem avidamente aquilo por que nutrem interesse. Não é porque Dan Brown é bestseller que ele é lido: ele se tornou bestseller porque tocou uma corda raramente tangida na alma humana - a sua identidade. Ao procurar "O símbolo perdido" (como se chamará no Brasil), procuram a si mesmos. Todo e qualquer livro só interessa se nele o leitor puder se ver, se encontrar, se perscrutar, se descobrir. Ontem ouvi uma das frases mais curiosas sobre esse tema: "O que aprendemos nos livros, não aprendemos no cotidiano". E quem disse isso é uma pessoa que normalmente não lê, mas leria, se soubesse, se tivesse certeza que esse tempo seria usado para nutrir o seu conhecimento com coisas que não aprenderia de outra forma.

O que me devolve ao tema do que aprendemos lendo os clássicos: não precisaríamos de livros de autoajuda se as pessoas soubessem o que encontrariam lendo romances, contos e poesia de autores renomados, ou mesmo de novos autores, mas se tivessem certeza que ao ler um texto de ficção, estariam encontrando uma forma de resolver o seu problema. O que dificulta essa procura é o modo de trabalhar como bula: tudo tem que ter receita. "Para isto, use aquilo". Se lêssemos ao acaso, descobriríamos também naturalmente o que estamos buscando, ou até, descobriríamos algo que não sabíamos que estávamos procurando.

Ao ler "Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres" de Clarice Lispector, descobri, aos 15 anos, que havia uma mulher em mim que queria nascer, como Lóri das águas do mar para poder encontrar o seu Ulisses. "Estar pronta" era um conceito que eu não conhecia, mas que aprendi ali, com Clarice, que para ser mulher era preciso preparar-se.

Qualquer livro pode ser um bestseller, desde que toque a alma humana.

Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2009 - 14h58

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ao editor, o livro

Raquel,
esta troca está se mostrando muito fértil, tanto para mim quanto para quem está lendo.
há algum tempo me pediram textos sobre leitura que guardei e Sidnei Ferreira passou a publicá-los no blog Tabacaria, na série Ler faz crescer, creio que você tenha recebido também.
ele está postando uma série de dez textos que também publicarei assim que ele terminar de divulgá-los.
optei por criar o blog para não ter de escrever em off e depois vir com um livro pronto, preferi ir dialogando sobre o assunto que tanto comove as pessoas: realmente publicar muda a vida delas (nem sempre para melhor).
Mas o mais importante é saber que é um divisor de águas, tanto para o autor quanto para o editor - que assume dar uma cara ao livro.
Já descobri há algum tempo que quando o livro é bom, o autor é ótimo e quando o livro é ruim, o editor que não presta. Nem sempre a culpa é só do editor, mas cabe a ele a decisão final. Ceder aos caprichos do autor muita vez corrompe o livro (às vezes, ocorre o contrário, o editor acaba com a edição).
Por isso, é preciso muita calma no momento de publicar um livro: há livros que nos pregam peças, quando pensamos que está tudo em ordem, algo sai fora do lugar.
Conhecemos o lado dos autores - é preciso falar sobre os editores, pessoas tão singulares, pois enquanto o autor faz sucesso, o editor fica com pinta de bandido da história, quando, em geral, não é. Ao autor pertence o texto, ao editor, o livro.
bjs.
Thereza Christina
Rio de Janeiro, 17 de setembro de 2009 - 16h21

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Felicidade é editar um livro

De todos os sonhos, o mais intrincado é a edição de um livro. A preparação é mais longa que uma gestação humana e mais complexa que a chegada do homem à lua. Todos os fatores colaboram a favor e contra o seu objetivo.
Mozart disse que toda história vale a pena ser publicada em livro - por isso temos tantos livros quanto pessoas na face da Terra. Já visualizaram quantos bilhões de livros foram publicados em toda a história da humanidade, desde os primórdios até o século XXI?
Nada supera a alegria de um autor ao ver editado seu livro. É uma sensação ímpar, porque um livro NÃO é um filho: é muito diferente desses. Um livro é para sempre e os filhos, não.
E nada supera a frustração de não conseguir editá-lo ou de editá-lo mal.
Por isso, todo cuidado é pouco.
Livro não é xerox (por mais que as máquinas digitais façam parecer assim). É necessário talento e qualidade para colocar um monte de páginas entre duas capas: ainda bem que há profissionais da área, portanto fujam dos neófitos.
Esses transformam livros em desastres e publicações em natimortos. E nada superará a tristeza de ver seu esforço sucumbir. Vivi recentemente um salvamento de um livro: este queria porque queria vir a lume e conseguiu, urdiu seu caminho para nascer o melhor possível e ainda está para provar a que veio, mas se pensarmos em sua história até ser publicado, acharemos ser inacreditável a sua trajetória. Voltarei a esse tópico mais tarde.
Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2009 - 10h19

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O primeiro livro a gente nunca esquece

Neste fim de semana, durante a Primavera dos Livros em São Paulo, realizado no Centro Cultural da Rua Vergueiro, 1.000, no Paraíso, dei tratos à bola quanto à edição de primeiros livros (que faço sistematicamente há quase dez anos pela editora e há 30, desde 1979).
O primeiro livro é o mais importante de todos, pois ele abrirá a porta para o livro seguinte e todos os demais que virão. Sem o primeiro, nunca alcançamos o primeiro degrau da escalada para a notoriedade literária (venha ou não).
Antonio Torres, Patrono da Primavera dos Livros no Rio, em 2007, falou da edição do seu primeiro livro, que lhe deu consagração nacional, publicado por uma pequena editora, levando-o às portas de uma grande editora.
Todo primeiro livro exige respeito absoluto. É nele que estão as sementes de todos os livros por vir. Quando publiquei a terceira edição do meu primeiro livro, Joio & trigo, em 2005, eu replantei as sementes que apontam para todos os livros que escrevi depois, que hoje são 10.
Para se chegar no décimo livro, o primeiro passo foi fundamental. Escrevê-lo, prepará-lo para edição, escolher os poemas, selecionar os melhores, decupá-los, editá-los, cortar os excessos de palavras, pontuá-los, colocá-los na melhor ordem, dar-lhes títulos, separá-los em partes, pôr e tirar vírgulas, tudo isso levou meses de trabalho.
Isso pronto, passei ao segundo passo: imprimi-los. Naquela época, era necessário mandar compô-los em máquina IBM numa gráfica, depois diagramá-los em folhas de papel sulfite para gravar as chapas de papel, fazer o fotolito da capa, comprar o papel da impressão de capa e miolo e pagar a gráfica para imprimi-los. Foram mais 8 meses de trabalho, conseguindo cada pedacinho do processo em câmera lenta.
Hoje não muda muito: depois de revisá-los, etc., é preciso fazer o projeto gráfico, escolher a capa, ver o melhor tipo para impressão do miolo, escolher o orçamento da gráfica, cotar preços de papel, senão, arrumar quem faça isso por nós, uma produtora editorial ou uma editora que preste esse tipo de serviço (senão pague todo o processo por sua conta).
Não importa qual o caminho que se escolha, ou o caminho que o livro siga, por conta da editora ou do autor: o processo será o mesmo, depois de sucessivas provas e revisões, de escolhas e aprovações, cada etapa apontando para o passo seguinte.
O livro vai se formando, indicando também o que ele quer, ora por meio de atrasos, ou imprevistos, escolhas que não dão certo, para depois desvendarem-se como a melhor opção.
As várias histórias de inúmeros primeiros livros só podem ser contadas uma a uma, mas todas me ensinaram que é preciso uma imensa paciência para passar de uma etapa à outra, de uma fase à outra, pois os livros só parecem iguais por fora: por dentro são um universo todo novo, que só descobrimos à medida que o fazemos.
Quando acreditar que um livro se repete, pare: está deixando escapar alguma coisa, pois nenhum se repete, por mais parecidos que sejam.
Como na cena em que William Hurt vê as fotos tiradas diariamente à mesma hora da esquina da tabacaria em "Smoke" de Paul Auster: olhe lentamente, sempre há algo novo para ser percebido. Durante o fim de semana em São Paulo, Cilene Vieira, editora da Vieira & Lent, membro da Libre, que também participou da Primavera dos Livros, me perguntou como eu conseguia lembrar de tantos detalhes de um livro que fiz em 2003. Eu respondi: é que vivo cada livro intensamente, então não me esqueço dele. E cada livro tem sua história, única, irrepetível.
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2009 - 18h07

domingo, 6 de setembro de 2009

Por que os livros são diferentes?

Cada livro é igual ao seu autor. Se o editor e a gráfica forem duas constantes, a única variável é o autor. Um livro sempre será cópia fiel do ânimo, do espírito, da alma, da carência, da necessidade, dos medos e expectativas do seu autor. Porém, é bom também lembrar que um livro não é um objeto: ele é um ser, que pensa, acha, sente, quer e tem vontades tanto quanto qualquer outro ser, independente de seu autor (é o alter ego do autor, só que ele não sabe).
Um livro pode ser a materialização de um sonho, ou pode se tornar um pesadelo, se seu autor e editor não respeitarem a "vontade" do livro. Improvável?
Tente fazer um livro quando as condições não forem propícias. Tente acelerar uma edição, apressando sua revisão, ou fazê-la com prazo menor do que o desejável. Tente contratar pessoas que não sejam adequadas para a realização do livro, e que não entendam nada (ou pouco) de revisão, editoração ou edição. Tente contratar uma gráfica que tem um bom preço, mas que anda mal das pernas e terá o resultado em dois tempos: o livro vira um Frankenstein.
O que era sonho vira pesadelo para o autor, para o editor e para o leitor. Um livro mal editado, mal traduzido, mal escrito e mal impresso é o que há de pior no mundo.
Para se fazer um livro é preciso tempo, já dizia o Eclesiastes: "Fazer livros, meu filho, é um trabalho sem fim".
Primeiro, é preciso não ter pressa. Segundo, é preciso estar pronto (texto pronto, bem entendido). Terceiro, o autor tem que entender que não é editor, e o editor entender que não é deus, só um materializador de livros e que o livro, a entidade perpétua nesse caso, que vai durar muito além dos dois, sabe como e quando quer vir ao mundo, por isso certos livros fluem como espuma e outros emperram e nunca saem, ou saem todos errados.
Diante de um futuro livro, é preciso ter a sabedoria de esperar que ele indique o caminho: não é muito fácil nos tempos de hoje auscultar a vontade de um livro.
Seu autor já o escreveu, que bom, mas e o livro, quando sai? Só ele sabe. O editor nesse processo é o parteiro de uma gestação sem prazo que só tem data para começar. Estamos falando de um mundo capitalista, com prazos de investimento e retorno? Não é desse tipo de livro que estou falando: esses se fazem todos os dias, nem sei como.
Mas os que faço, além de atender a alguma parcela do mercado editorial, são manhosos e caprichosos e só saem quando querem.
Já vi livros esperarem anos para vir à luz. E outros saírem a jato, em dois meses. O que faz com que sejam diferentes: seus autores e a entidade livro que foi concebida ali.
E cabe ao editor perscrutá-lo, com olho de águia, para saber o que tem nas mãos. Auscutá-lo e esperar que o livro lhe "diga", aqui e agora.
Cada livro tem sua história, seu rosto, sua identidade, sua forma, sua perfeição. Editá-los é uma honra e é concedida a quem o livro escolhe, sim, ele escolhe o editor (não só o autor).
Quando tudo isso dá certo, é a realização de um encontro feliz: editor, autor e livro, mas basta alguma coisa dar errado para que tudo isso caia no abismo. E ninguém vai entender por quê.
Houve livros que começaram bem e, de repente, tudo saiu às avessas: a revisão embolou, a diagramação se atrapalhou, os arquivos foram mal copiados, a gráfica montou o livro errado, o impressor estava de porre e cortou o livro torto.
A quem cabe a culpa? Juridicamente, é fácil responder, mas eu digo, instintivamente, quem errou? Alguém estava contrariado ao longo do processo, ou foi a ansiedade do autor, a má vontade do editor, a displicência do impressor, vai saber.
Um livro é algo sagrado e deve ser tratado como tal. Não é uma coisa, é um ser vivo, cheio de vontades e manias. É preciso estar atento para ouvi-lo.
Rio de Janeiro, 7 de setembro de 2009 - 00h25