quinta-feira, 1 de agosto de 2019

A história de "Ulysses" é uma odisseia


Num dia acabou a lei seca nos EUA; no dia seguinte, o "Ulysses" foi liberado

by Denise Bottmann

a história é engraçada: "Ulysses", como todo mundo sabe, era proibido na Inglaterra e nos EUA, com queima de exemplares, multas, confiscos de edições piratas etc. - mas era liberado na frança, onde saiu em 1922.

aí uma editora americana (a Random House) teve uma ideia: comprou os direitos de publicação da obra para os EUA, e mandou importar a obra da frança, mas que escrevessem "ULYSSES" em letras BEM GRANDES no lado de fora do pacote.

o livro chegou na alfândega, os agentes alfandegários engoliram a isca e apreenderam o pacote por causa do baita ULYSSES no embrulho. era exatamente o que o editor queria, pois, afinal, o livro não fora publicado na Inglaterra nem nos EUA, e sim num país onde sua publicação era permitida; portanto, era plenamente legal. 

ele então armou o maior escarcéu, acionou a justiça, entrou com ação contra a alfândega, o escambau. teve o maior apoio de intelectuais, escritores, opinião pública em geral, e.... tchan tchan tchan, ganhou a ação e o livro foi liberado para publicação nos EUA

[vá lá que teve a sorte de que a ação caiu nas mãos de um juiz bastante, digamos, liberal, e que até ficou famoso por conta disso].

a primeira edição, depois de todo o pampeiro e com toda a divulgação da coisa, vendeu feito pãozinho quente, e assim se sucederam as várias reedições da obra.

[mas a coincidência também é verdade: a lei seca [estabelecida pela 18a. emenda] caiu no dia 5 de dezembro de 1933 [com a ratificação da 21a. emenda], e a proibição de Ulysses caiu no dia 6 de dezembro de 1933, por decisão em Nova York.]

imagem de capa da primeira edição legal nos EUA, em 1934.