sábado, 25 de setembro de 2010

Viver de livros

Uma das perguntas mais perturbadoras para a grande maioria dos escritores é se conseguem viver dos livros que escrevem. Os amigos, curiosos por escrutinar a intimidade do autor, perguntam, à socapa: "Você vive disso?" Claro que o constrangimento da pergunta só tem uma resposta: "Não".

Poucos são os que pagam contas com o dinheiro que provém dos livros e ainda guardam um pouco na poupança. A maioria, entre eles grandes escritores, envergonham-se em dizer que não podem contar com o que recebem apenas dos livros vendidos.

Assim, vários autores famosos têm um emprego para garantir seu sustento. Um equívoco? Não. O equívoco é querer que se viva de escrever. Isso é até possível em mercados onde a escrita seja valorizada. Escrever é uma profissão. Mas, entre nós, nem todos podem contar com o que rendem os livros que escrevem.

Best-sellers são sonhos editoriais que só atingem aqueles que alçam ao Olimpo das letras. E só temos olhos para eles. Mas existe vida no sopé do Olimpo, para aqueles que acreditam piamente que aquilo que escrevem vale a pena ser lido.

Hoje temos cada vez mais autores novatos, cada vez mais estreantes, cada vez mais pessoas que se dão ao direito de publicar um livro e quererem ser reconhecidas por isso. Para esses, a estrada é longa. Nem sempre se consegue chegar longe num primeiro livro: há um trabalho longo a ser perseguido antes, durante e depois de lançá-lo.

Publicar é um enfrentamento de egos. Primeiro consigo mesmo, depois com os outros. Escrever é um ato solitário, mas só serve se for lido. Ninguém escreve "só" para si. Um dia esses textos, mesmo escritos no anonimato, se tornarão públicos.

O único caminho é torna-se conhecido: divulgue entre os amigos, entre as pessoas que conhece, publique-se, faça-se publicar, pague para ver, e vá conhecendo as pessoas que poderão valorizar o que escreve. Pode ser que um desses leitores seja a pessoa certa para levá-lo ao Olimpo. Isso pode demorar muito tempo, ou não.

Mas não abra mão de escrever, de publicar, de aprender esse ofício tão raro do escritor, mesmo mal remunerado. Um dia, conseguirá pagar o jantar com o que vendeu em livros. O dinheiro que for para a carteira lhe dará a sensação de que todo o esforço recompensou. É a paga do livro.

Pode ser difícil viver de livros como Paulo Coelho. Porém, até ele começou do zero. Só que ele não desistiu. Ele traçou o próprio caminho. Perseguir esse caminho é a recompensa apenas para os obstinados. Aqueles que não desistem nunca.

O livro vale a pena todo esse esforço. Porque um dia será lido pela pessoa que precisa lê-lo. E isso não tem preço.

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2010 - 2h02
Depois do lançamento de "Mundo de algodão", de Mariana Reade, contos para adultos e crianças, prefácio de Jorge Mautner e apresentação de Renato Rezende, na DaConde das 16h às 22h.