quarta-feira, 5 de agosto de 2020

O mistério do erro que volta

Em publicação de livros, eu já vi de tudo. Já escrevi dois livros a respeito. Desde autor que desiste do livro na hora de imprimir, àqueles que nem começam com medo de errar. No mundo literário tem de tudo, mas o caso do Volume 1, de "O Velho Oeste Carioca", de André Luis Mansur, de 2008, é assombroso. 

Este livro começou com sucesso desde o lançamento. O autor, André Mansur, já tinha andado de ceca em meca para encontrar um editor, e toda vez que mostrava o texto, achavam muito bom, tudo muito bem, mas não entraria nas prioridades da editora. 

Eu, ao contrário, gostei do livro de cara: aquilo de falar sobre a história da Zona Oeste do Rio de Janeiro era apaixonante. Tive que contornar o meu "conselho editorial", que, na época, era formada por mim e mais um sócio que achava tudo desinteressante (como este, ele desaprovou "Caymmi e a bossa nova", de Stella Caymmi e "A dança dos sonhos", de Michael Jackson, que fiz mesmo assim, e quase desaprovou o livro sobre São Jorge, que foram absolutos sucessos). Realmente, um sócio muito ruim, sem visão alguma. 

Então, fiz um trato com André Mansur para fazermos o livro em parceria e tudo seria dividido entre nós igualmente. É o livro de maior venda da editora há 12 anos. E depois vieram mais dois volumes, que continuam sendo reimpressos e vendidos da mesma maneira.  

Porém, descobrimos, nessa última reimpressão do Volume 1 do nosso querido "Velho Oeste", que alguns erros que saíram na primeira tiragem de 500 exemplares, e que foram corrigidos em seguida para a segunda tiragem, tinham voltado. Um amigo o alertou para erros de data em duas páginas, que tinham passado despercebidos na primeira impressão. 

André falou comigo e eu imediatamente fui procurar no computador onde estaria a versão corrigida que me havia escapado, e qual não foi meu espanto ao descobrir que eu só tinha a versão errada, reduplicada não sei quantas vezes, em pastas diferentes, na HD. Onde fora parar a versão corrigida? Por que esta não foi deletada e substituída pela correta, que deveria ter sido usada dali para frente, como aconteceu nas reimpressões seguintes? 

Doze anos depois (o livro está fazendo aniversário de um ciclo completo no horóscopo chinês, do ano do Rato), o erro retorna e diz: "Vocês não me pegaram". É a maldição da primeira edição, só pode ser. Por que só agora se descobriu algo que já estava sendo repetido errado (salvo os primeiros corrigidos feitos por alguma gráfica que guardou o arquivo e que depois se perdeu)? 

Vou continuar procurando o arquivo certo, porque ele não pode ter sumido, a não ser que aquele meu ex-sócio que diagramou o livro, a contragosto, descuidado, não trocou o arquivo de impressão e deixou o errado como se fosse o certo. 

"O Velho Oeste Carioca" foi um sucesso retumbante. André Mansur deu entrevista em rádio, foi capa do caderno Zona Oeste de O Globo, deu palestra, lançou o livro na antiga Livraria Arlequim, na Praça XV, e depois num famoso boteco em Campo Grande, onde chegamos depois de uma longa viagem, num sábado à tarde, em dezembro de 2008. 

Só então meu ex-sócio entendeu a importância do livro, e me disse, meio sem graça, que ele não tinha entendido direito sobre o que era o livro. Ora, ele não era carioca para entender. Também não sou, mas cresci no Rio, então eu sabia. 

Nas Primaveras do Livro, todos os "Velho Oeste" que temos vendem. Na Bienal, também. E depois que lançamos o Volume 3, quem compra faz questão de levar todos (caso não tenha os anteriores). 

Não importa, é um sucesso, mas para acrescentar um mistério a esse livro (como sói acontecer), por que o erro não foi embora? 

É um caso único. Toda vez que se troca um arquivo, que se corrige uma edição, ele é substituído e deleta-se o errado. Mas, este não. Por quê? Eu vou ter de meditar profundamente sobre o assunto, para entender por que nosso "Velho Oeste Carioca" nos passou essa rasteira. O erro tinha sido corrigido! Tanto que há impressões corretas. Mas voltar agora com o mesmo erro, como se não tivéssemos corrigido, só me faz entender que o erro é uma entidade que assombra o livro, que mesmo sendo tirado, ele pode voltar. 

É um daqueles mistérios que nem Sherlock Holmes consegue decifrar. 

Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2020 - 14h50