Escrever é um ato de resolução. Ninguém escreve à toa. Tudo o
que pensamos vem em forma de sentimento e palavra e, para entender essa ponte, escrevemos.
Marisa Rodrigues faz isso de modo
sintomático e obsessivo – sim, há que existir obsessão na escrita – e tudo o
que ela diz é maior que ela. Os poemas em prosa ou prosas fluidas nascem aos
borbotões para tentar aplacar o que vem primeiro, o sentimento ou a palavra e
com isso falar de sua história, revolta, nascimento, feminilidade, vontade,
livramento.
Marisa adverte quem lê porque poeta ou
não a poesia a transforma. Ela fere de morte os que permeiam seus versos à
procura de candura e encontram lacerações. A alma sangra e esse sangramento é
palavra.
Urbe
et orbi devemos saber
que a poesia tem uma função dupla: a de ser escrita e de escrever quem a
escreve. E de escrever quem a lê. O poema gruda na retina e de lá não sai. Para
sempre a emoção da leitura vai ficar no leitor que não se livrará do poema
mesmo que não o lembre. Poesia é transcendental e persecutória. Vive enquanto
nos lembrarmos dela.
Os poemas de Marisa Rodrigues neste Água para borboletas catalisam os
sentimentos e torna-os claros. Legíveis. Vivos. Como a ranhura dos dentes e a
cicatriz da infância. Perceptível e presente.
Thereza Christina Rocque da Motta
Rio
de Janeiro, 6 de maio de 2017