sábado, 25 de novembro de 2017

O dom da permanência


Os homens terão amado todas as mulheres até que a poesia tenha fim. Ela nasceu para dizer o amor, e do amor ser o mensageiro e o companheiro de todas as horas. A poesia é o alimento do coração que ama. Nada mais pode ser dito por suas palavras, senão que o amor existe e perdura, por toda a eternidade.

O poeta é seu instrumento e por ele os poemas nascem. E os que os leem sentem que a vida se divide em dois momentos: antes e depois da leitura. O poema que não provocar uma cisão entre esses dois instantes não é um bom poema, pois o poema só existe se for definitivo.

A emoção do poema não está nas palavras, mas no sentimento que elas provocam. A lapidação do poema começa nos fatos, os atos corriqueiros do dia a dia, aqueles que fazemos mecanicamente, sem pensar. Mas o poema se constrói, justamente na silenciosa urdidura dos dias e brota, sem avisar, quando está pronto.

O poema corta com suas palavras precisas o que deve ser dito agora e para sempre. Para sempre o poema trará a emoção de quando foi feito. Se isso não acontecer, não é um bom poema. A emoção original continua no poema muito tempo depois de ter sido escrito. E retorna toda vez quando é lido.

Marcia Mendes procura a poesia no seu dia a dia. E ela lhe fala através dos gestos conhecidos de toda uma vida. A vida transborda em seus poemas, excessos de si mesma, que travam uma lenta peregrinação até nossos ouvidos. O que Marcia procura, ela encontra. O que ela sente, ela diz. O que ela pensa, sofre, chora, espera, ama, ela escreve. E através dessa escrita, ela descreve o universo ao qual pertence de modo inalienável.

Sua extrema consciência de si e do outro, sua candura, sua visão humaníssima estão presentes nos poemas deste Permanência, pois é a permanência que os poemas buscam. Ela não sabe o que está fazendo o tempo todo, ninguém sabe, mas ela busca, como todos buscam entender, descobrir, desvendar e revelar naquilo que escrevem.

O poeta nunca sabe quando escreverá seu próximo poema, mas ele sempre tem de ser definitivo, como se fosse o último, como se dividisse o tempo em antes e depois dele, por ser inesquecível. Ninguém é o mesmo depois de ler um poema como esse. Nele está a fórmula da eternidade e da permanência.

Thereza Christina Rocque da Motta
Poeta, editora e tradutora.
Membro da Academia Brasileira de Poesia e do Pen Clube do Brasil





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