Os homens terão amado todas as mulheres
até que a poesia tenha fim. Ela nasceu para dizer o amor, e do amor ser o
mensageiro e o companheiro de todas as horas. A poesia é o alimento do coração
que ama. Nada mais pode ser dito por suas palavras, senão que o amor existe e
perdura, por toda a eternidade.
O poeta é seu instrumento e por ele os
poemas nascem. E os que os leem sentem que a vida se divide em dois momentos:
antes e depois da leitura. O poema que não provocar uma cisão entre esses dois
instantes não é um bom poema, pois o poema só existe se for definitivo.
A emoção do poema não está nas palavras,
mas no sentimento que elas provocam. A lapidação do poema começa nos fatos, os
atos corriqueiros do dia a dia, aqueles que fazemos mecanicamente, sem pensar.
Mas o poema se constrói, justamente na silenciosa urdidura dos dias e brota,
sem avisar, quando está pronto.
O poema corta com suas palavras precisas
o que deve ser dito agora e para sempre. Para sempre o poema trará a emoção de
quando foi feito. Se isso não acontecer, não é um bom poema. A emoção original
continua no poema muito tempo depois de ter sido escrito. E retorna toda vez
quando é lido.
Marcia Mendes procura a poesia no seu
dia a dia. E ela lhe fala através dos gestos conhecidos de toda uma vida. A
vida transborda em seus poemas, excessos de si mesma, que travam uma lenta
peregrinação até nossos ouvidos. O que Marcia procura, ela encontra. O que ela
sente, ela diz. O que ela pensa, sofre, chora, espera, ama, ela escreve. E
através dessa escrita, ela descreve o universo ao qual pertence de modo
inalienável.
Sua extrema consciência de si e do
outro, sua candura, sua visão humaníssima estão presentes nos poemas deste Permanência, pois é a permanência que os
poemas buscam. Ela não sabe o que está fazendo o tempo todo, ninguém sabe, mas
ela busca, como todos buscam entender, descobrir, desvendar e revelar naquilo
que escrevem.
O poeta nunca sabe quando escreverá seu
próximo poema, mas ele sempre tem de ser definitivo, como se fosse o último,
como se dividisse o tempo em antes e depois dele, por ser inesquecível. Ninguém
é o mesmo depois de ler um poema como esse. Nele está a fórmula da eternidade e
da permanência.
Thereza
Christina Rocque da Motta
Poeta,
editora e tradutora.
Membro
da Academia Brasileira de Poesia e do Pen Clube do Brasil
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