segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O primeiro livro a gente nunca esquece

Neste fim de semana, durante a Primavera dos Livros em São Paulo, realizado no Centro Cultural da Rua Vergueiro, 1.000, no Paraíso, dei tratos à bola quanto à edição de primeiros livros (que faço sistematicamente há quase dez anos pela editora e há 30, desde 1979).
O primeiro livro é o mais importante de todos, pois ele abrirá a porta para o livro seguinte e todos os demais que virão. Sem o primeiro, nunca alcançamos o primeiro degrau da escalada para a notoriedade literária (venha ou não).
Antonio Torres, Patrono da Primavera dos Livros no Rio, em 2007, falou da edição do seu primeiro livro, que lhe deu consagração nacional, publicado por uma pequena editora, levando-o às portas de uma grande editora.
Todo primeiro livro exige respeito absoluto. É nele que estão as sementes de todos os livros por vir. Quando publiquei a terceira edição do meu primeiro livro, Joio & trigo, em 2005, eu replantei as sementes que apontam para todos os livros que escrevi depois, que hoje são 10.
Para se chegar no décimo livro, o primeiro passo foi fundamental. Escrevê-lo, prepará-lo para edição, escolher os poemas, selecionar os melhores, decupá-los, editá-los, cortar os excessos de palavras, pontuá-los, colocá-los na melhor ordem, dar-lhes títulos, separá-los em partes, pôr e tirar vírgulas, tudo isso levou meses de trabalho.
Isso pronto, passei ao segundo passo: imprimi-los. Naquela época, era necessário mandar compô-los em máquina IBM numa gráfica, depois diagramá-los em folhas de papel sulfite para gravar as chapas de papel, fazer o fotolito da capa, comprar o papel da impressão de capa e miolo e pagar a gráfica para imprimi-los. Foram mais 8 meses de trabalho, conseguindo cada pedacinho do processo em câmera lenta.
Hoje não muda muito: depois de revisá-los, etc., é preciso fazer o projeto gráfico, escolher a capa, ver o melhor tipo para impressão do miolo, escolher o orçamento da gráfica, cotar preços de papel, senão, arrumar quem faça isso por nós, uma produtora editorial ou uma editora que preste esse tipo de serviço (senão pague todo o processo por sua conta).
Não importa qual o caminho que se escolha, ou o caminho que o livro siga, por conta da editora ou do autor: o processo será o mesmo, depois de sucessivas provas e revisões, de escolhas e aprovações, cada etapa apontando para o passo seguinte.
O livro vai se formando, indicando também o que ele quer, ora por meio de atrasos, ou imprevistos, escolhas que não dão certo, para depois desvendarem-se como a melhor opção.
As várias histórias de inúmeros primeiros livros só podem ser contadas uma a uma, mas todas me ensinaram que é preciso uma imensa paciência para passar de uma etapa à outra, de uma fase à outra, pois os livros só parecem iguais por fora: por dentro são um universo todo novo, que só descobrimos à medida que o fazemos.
Quando acreditar que um livro se repete, pare: está deixando escapar alguma coisa, pois nenhum se repete, por mais parecidos que sejam.
Como na cena em que William Hurt vê as fotos tiradas diariamente à mesma hora da esquina da tabacaria em "Smoke" de Paul Auster: olhe lentamente, sempre há algo novo para ser percebido. Durante o fim de semana em São Paulo, Cilene Vieira, editora da Vieira & Lent, membro da Libre, que também participou da Primavera dos Livros, me perguntou como eu conseguia lembrar de tantos detalhes de um livro que fiz em 2003. Eu respondi: é que vivo cada livro intensamente, então não me esqueço dele. E cada livro tem sua história, única, irrepetível.
Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2009 - 18h07

Um comentário:

  1. Eu estive lá, na Primavera dos Livros no ano passado! Foi ali que alimentei e nutri a minha vontade de ter também uma editora.

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