Por mais que nos esforcemos, não conseguimos mostrar aos nossos autores quanto é difícil fazer livros. Difícil, porque nos deparamos com uma miríade de questões de todo tipo.
Primeiro, lidar com a personalidade do autor: que figuras! Quando ele não sabe o que quer, sabe demais e começa a dar ordens. Ou então, põe as manguinhas de fora quando o livro fica pronto. É aí que descobrimos toda a educação que a mãe não lhe deu.
Segundo, lidar com as intempéries do livro: as sucessivas revisões, as extenuantes alterações, as mudanças necessárias e a visão microscópica para não deixar passar erros (em geral cometidos pelo próprio autor e que teremos de "caçar" a olho nu).
Terceiro, com a pressa inerente ao ser humano: todo mundo parece querer tudo para ontem, quando não se fazem livros em três dias. Nem sete, nem 30. Livros levam muito mais tempo do que se espera. E temos de esperar que fiquem prontos. Isso eu digo e repito e toda vez que tentam colocar o pé no acelerador, o livro dá errado.
Quarto: por mais que se faça, nunca parecerá o suficiente. Assim o tempo que gastei revisando o livro não será reconhecido, porque qualquer coisa que saia errado parecerá que eu não fiz o que eu deveria fazer, quando fiz tudo o que pude para que desse certo.
Só há uma saída: quando o autor aceita, humildemente, que o orientemos e ele nos acompanhe passo a passo, nem duvidar. Todo o meu esforço é hercúleo, é sobre-humano, é maior do que eu. Mas tudo isso parece valer menos quando aquilo que fiz não é reconhecido por erros alheios à minha vontade.
Nem tudo dá certo. Nem tudo pode ser uma maravilha, nem todos os livros são um sucesso desde o seu lançamento. Para isso o autor precisa estar consciente de seu despreparo, de sua fragilidade, de sua ignorância ao lançar um livro - ele nunca fez isso antes. E mesmo que tenha feito, sempre parecerá a primeira vez.
É preciso fazer isso de modo inocente, como criança. Ter uma candura e um coração maior que tudo, e saber que ninguém irá querer prejudicá-lo. Muito pelo contrário. Ninguém trabalha para que as coisas deem errado.
Quinto e último: livros só valem a pena quando são amados. Se o fizermos com fito de lucro ou soberba, seremos o primeiro alvo de seu descaso. Livro não foi feito para ostentação. Foi feito para diversão e compartilhamento. É o objeto mais altruísta do homem: ele permanece no lugar do autor, para que seu ensinamento, sua mensagem perdure. Então, não pode ser feito por vaidade. O livro não é vaidoso. Ele é simples, por mais belo que pareça.
E nessa simplicidade, o que for menos, vale mais.
Rio de Janeiro, 11 de maio de 2010 - 19h32
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