sexta-feira, 11 de junho de 2010

Livros para a vida inteira

Escrevemos para a vida inteira. Tudo o que buscamos dizer e escrevemos, permanece inscrito como o mapa da mina, o esconderijo de um tesouro, a caverna de Ali Babá. É uma relíquia até para nós mesmos, quando nos esquecemos.

"Fui eu que escrevi isto?" Há memórias que se vão se não forem registradas. Às vezes, alguém nos lembra algo que dissemos e nós mesmos não sabemos mais.

Quando escrevemos, o fazemos para nos lembrar. Ou sermos lembrados. A palavra escrita é a única que guarda toda a energia e significado de suas letras. Se forem misturadas, continuarão a querer dizer a mesma coisa.

Não importa a língua, as letras contêm o código do conhecimento humano, uma imagem simbolizada, ou o símbolo da imagem que foi ali registrada um dia. Através desse símbolo, temos um som e um significado, que por mais que se tenha perdido, permanece implícito na palavra.

A letra R, por exemplo, foi traçada a partir da imagem de um rosto e o L, a partir da silhueta de um homem caminhando com pressa, com a cabeça arremessada para frente, em movimento. Toda palavra que se inicia com R ou L terão o significado dessas letras embutido em seu sentido. A soma das letras traz o significado da palavra em essência, mesmo que tenha ganhado outra acepção com o tempo.

Essa energia contida nas palavras e o conteúdo do texto como um todo, a materialização do pensamento humano gera uma onda que toma todo o livro, o autor e leitor num uníssono que se reproduz ad eternum.

Escrever tem essa genialidade. Trazer para quem lê toda a carga de energia do que é dito. Toda ideia tem o poder de mil sóis. A explosão de seu signficado jamais se extingue, reverbera como a luz se propaga pelo espaço.

Buscamos a permanência e essa é a nossa. As ideias só continuam se forem repetidas, relidas, revistas, revisitadas. Uma paisagem descrita em um livro é uma paisagem rememorada mil vezes.

Ainda ecoa em mim a leitura que fiz aos 15 anos de "Olhai os lírios do campo", de Érico Veríssimo. Ou a descrição do sertão em "Fogo morto" e "Menino de engenho", de José Lins do Rego. Um livro acompanha uma pessoa por toda a vida depois de lido.

Os contos da Condessa de Ségur, as reinações de Narizinho e as caçadas de Pedrinho, as fábulas de La Fontaine, as histórias de Andersen e dos Irmãos Grimm, desde "A Princesa e a Ervilha" e "O Patinho Feio" à "Chapeuzinho Vermelho" e "Cinderella" se repetem continuamente criando o leitmotiv de toda a minha vida.

Ao repetir as palavras que pronunciamos, mesmo no silêncio de nossos pensamentos, entendemos que nascemos para falar de nossa compreensão aos que virão. Assim são escritos os poemas, os contos, os romances, os livros de autoajuda - para ajudar a compreender.

Tudo o que procuramos pode estar num livro. Encontre-o. Senão, ele o encontrará.

Rio de Janeiro, 11 de junho de 2010 - 20h18

Nenhum comentário:

Postar um comentário