domingo, 20 de novembro de 2011

Conselhos para quem quer escrever melhor

Gramática e ortografia dependem de uma constante vigilância. É fácil errar, as palavras mudam, ora se escrevem de um jeito e ora de outro. Dicionário se torna jurássico. Ontem encontrei uma Bíblia com ortografia antiga, mas a tradução é ótima. Eu trabalho em dois níveis, dos termos e do sentido. Há sempre uma forma melhor de dizer alguma coisa

É meu trabalho corrigir, revisar e ajustar as frases. Assim se torna mais fácil perceber os erros. Eu leio qualquer texto procurando erros. É deformação do ofício. Mas o melhor modo de aprender a escrever é ler bons livros (não más traduções, nem más revisões) da nossa literatura brasileira, de Clarice a Machado de Assis, de Cecília Meireles a Carlos Drummond de Andrade, só para mencionar os mais famosos, mas há muito, muito, muito que ler.

Se for ler uma tradução, leia uma que seja boa, de preferências as antigas, que eram feitas por grandes escritores, como Monteiro Lobato e Manuel Bandeira. As traduções novas sofrem de literalidade, ou seja, são traduzidos de forma direta, sem a elaboração do português, por isso ler textos bem escritos em português (não traduzidos) é essencial, senão escolha um bom tradutor contemporâneo.

Leia Lygia Fagundes Telles, Patrícia Melo, Livia Garcia-Roza, Adélia Prado, e mais um tanto de mulheres que são grandes autoras, fora os homens que estão por toda a parte. Pesquise numa livraria, mesmo que seja virtual, o que você pode ler. Leitura é um hábito como outro qualquer, tem que ser instalado e mantido. Se deixarmos para lá, ele não vinga.

Quando voltei a ler assiduamente, depois que nasceu a caçula, me forcei à leitura, colocando um livro em cada lugar onde me sentava. Mas escolhia livros que queria ler. Foi assim que reinstalei o hábito da leitura: espalhei vários livros pela casa, onde pudesse pegá-los sem esforço e toda vez lá estavam eles esperando por mim. Eu lia qualquer coisa, uma frase, um poema, um parágrafo, uma página, e isso me estimulava a ler mais, e eu ia lendo até terminar o livro, senão, o que li havia sido o suficiente.

Isso ajuda a consertar nosso português, uma língua tão difícil, que pouquíssimos falam. Não é tão falada quanto o espanhol e mal consegue abrir espaço na ONU. Mas é reconhecida como uma das línguas fundamentais na criação de obras literárias. Os brasilianistas e lusófonos que o digam.

A beleza do português só pode ser vista de longe, ou quando a traduzimos. Faço traduções para o inglês e vice-versa, mas colocar em português qualquer coisa bem traduzida é uma arte, para manter o significado usando nossas palavras e parecer bem escrito.

Como disse Mario Quintana, "Escreva, escreva, escreva, e me volte daqui a vinte anos".

13/11/2010 - 14h34

4 comentários:

  1. Simplesmente adoreeeei!!!
    Sou escritora (de gaveta por enquanto), comecei a me interessar pela leitura aos 4 anos, enlouquecia minha mãe com uma máquina de escrever emprestada,desejava saber como montar as histórias que inventava... e escrita além de nos permitir livre expressão, permite sonhar também.
    Grande abraço
    http://lasociet.blogspot.com/ Visite meu blog quando tiver um tempinho ;)

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    1. Cara Jessica, só vi hoje sua resposta. Escrever é a única forma de não enlouquecer, mesmo que enlouqueça os outros. Antes os outros do que nós... Você está certíssima... escrever permite sonhar. Beijos.

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  2. Eu gostava de tradução, até que me falaram muito, fiquei intimidado e não mais traduzi nada perto dos olhos de outras pessoas.

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    1. Bernardo, traduza, acredite no que você faz, eu não dei bola para ninguém e afinei minha tradução ao longo de 30 anos e um dia comecei a traduzir os sonetos de Shakespeare... do nada. Traduzir não é trair, é recriar, com o mesmo sentido, um texto novo. Abraços.

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