segunda-feira, 26 de abril de 2010

Livros de uma vida inteira

As plantas nascem pequenas, não importa o tamanho que tenham quando forem grandes. As crianças são igualmente pequenas, tão mínimas quando uma noz ou uma semente, que crescem para assumir o seu tamanho. E como a água rega as plantas, os livros regam os homens, assim como as palavras que lhes dizemos desde jovens. E sem pretender afogá-los, damo-lhes a justa medida de palavras, a conta-gotas, para que absorvam aos poucos o que saberão pelo resto da vida.

A cada dia, um novo livro assoma à nossa porta, para nos dizer aquilo que queremos saber, e numa ciranda de ideias armazenadas, bem acondicionadas em páginas que se seguem, uma à outra, perfeitamente encaixadas. Não pretendemos saber tudo, nem de longe, nem um dia. Mas nos dá uma imensa alegria pensar que um saberemos mais, ao encontrar um livro de surpresa, ou aquele que tanto buscamos.

O melhor livro é o que nos completa, o que nos empresta as palavras certas, nos diz o que estávamos esperando ouvir (ou ler). E a partir da novidade dita, poderemos compartilhá-la, duplicá-la, transmiti-la, copiá-la, repensá-la, tudo numa fração de segundos. A vida passa mais devagar quando pensamos. Dá tempo de refletir sobre tudo. Detemo-nos diante de um poema como se tocássemos a pedra filosofal. Aquela que tem o condão de transformar tudo em ouro.

São de ouro as nossas ideias, os nossos pensamentos, tudo o que aprendemos a fazer, tudo o que podemos ensinar, compartir, dividir, doar. A vida se presta aos préstimos. Àquilo que emprestamos de nós, em cada palavra que dizemos.

Aprender novas palavras: eis o desafio do homem. Aprender a dizê-las, aprender a usá-las, aprender a ensinar a dizê-las, com seu significado e sentido, com seu peso e matéria. Palavras para tudo o que somos e pretendemos saber.

E o único repositório das palavras (além das cartas bem escritas e dos diários e jornais abandonados) são os livros que colecionamos a vida inteira, esses portais de sabedoria que carregamos por toda a parte, e abrimos como quem procura um tesouro e sabe que vai encontrá-lo.

Rio de Janeiro, 27 de abril de 2010 - 02h02

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