quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A noiva dos livros

Foi assim: dia 29 de novembro me liga uma moça chamada Carolina, e me diz que quer comprar um dos meus títulos, "Eros e Psique", que publiquei em 2006, com lançamento em 4 de fevereiro de 2007, junto com os "44 Sonetos escolhidos", de William Shakespeare, num domingo lindo, na Casa Austragésilo de Athayde, no Cosme Velho, onde realizamos um Chá com Shakespeare, que ficou na história.

"Eros e Psique" é um poema de Fernando Pessoa, que publicamos em uma edição especial, junto com as imagens de Gustave Doré para "A Bela Adormecida", que se baseia no mesmo conto de Apuleio, que acrescentamos no final, além da apresentação que explica a abordagem psicológica de Hillman sobre o mito grego. Foi feito em duas cores de capa, com preto e dourado e as imagens em preto e branco originais. Foi uma edição que se esgotou e que acabei de mandar imprimir novamente para atender à demanda. Ele vende sempre. Mas não como desta vez.

Quando perguntei quantos exemplares ela queria, ela respondeu: "Oitenta". "Nossa", eu disse. "Você é uma loja?" "Não, particular". "Você vai dar de presente os livros?" Ela disse: "Vou dar como lembrança do meu casamento junto com os bem-casados. Em vez de dar uma lembrancinha qualquer, resolvi dar algo que dure. Gosto muito desse livrinho e queria fazer algo diferente". E acabou arredondando a conta para 100.

Carolina me surpreendeu, porque nunca imaginei que o livro que concebi apenas para reunir as imagens de Doré e o poema de Pessoa por se reportarem à mesma história, pudesse ganhar um lugar de destaque na vida de alguém. Já tive pessoas que compraram 20 exemplares para dar de presente a seus alunos, mas como lembrança de casamento, não.

Fiquei encantada com a iniciativa dela e perguntei qual era o nome do noivo. Ela disse: "João Procópio". No dia seguinte, ela fez o depósito referente à compra dos livros, exatamente na data de aniversário de morte de Fernando Pessoa, autor do poema, 30 de novembro. A coincidência não pode ter sido à toa. Nem foi à toa que essa noiva elegeu este poema para estar presente no dia do seu casamento no dia 15 de dezembro, em São Paulo.

Mas para arrematar o meu enlevo, à noite, ao pegar um exemplar para dar uma olhada nele, li no colofon a data de impressão da primeira edição: 30 de novembro de 2006, exatos seis anos antes, ou seja, fechou-se um meio ciclo (um ciclo inteiro tem 12 anos) de relevância em relação a este livro, que foi alçado a presente dos noivos aos seus convidados, um poema que celebra o amor que vence todos os obstáculos para viverem felizes para sempre.

(Em tempo: já enviei os cem exemplares para São Paulo e espero que tenham chegado em perfeito estado.)

Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 2012
Thereza Christina Rocque da Motta

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