TUDO
começa aqui. A divisão do neoconcreto constrói a luz do poema. Traçamos uma
reta ascendente em direção às palavras. As palavras escutam e tudo é poesia.
“Me permita ser um pouco abstrata”, diz Roberta Lahmeyer, porque de concreta
basta a vida. “A arte existe porque a vida não basta”, disse Ferreira Gullar.
Por causa dos poetas, descobrimos planos ainda não visitados por aqueles que
vivem sem poesia no seu dia a dia.
Olhar
faz parte da descoberta poética, transpor para a palavra tudo o que é estranho.
Escrevemos para descobrir. Não para dizer. Escrevemos para descrever a órbita
do planeta. Tudo é oval, senoide, eclipsar. Roberta olha de novo e desvê. A mesma forma serve para todos os tecidos: “...a poesia
atravessa a matéria e ilumina certos subterrâneos”. Entendi porque li, li
porque vi, vi porque encontrei, encontrei porque busquei. Os olhos estão no
presente e no futuro, a poeta espera o céu descer sobre sua cabeça “a dez
centímetros”.
TUDO
em poesia tem que ser uma descoberta. Como ler pela primeira vez. Como ver pela
primeira vez num poema algo que não estava lá, mas está em alguma parte do ser.
Dizer, redizer, desdizer, subentender o possível. Caminhamos. Caminhamos para
nos tornar. Seremos o que nos transformamos. Todo livro de poesia é um jardim
concreto de “pensamentos abstratos”. Observamos o essencial (invisível para os
olhos). Só se vê bem com poesia. Retas e sombras oblíquas. Desvãos.
Poesia é exílio. É partida e chegada. Ver. Subverter. Onde o Eu míngua, há Você.
Onde há corpos, há estar. O tempo gera a espera. Somos hoje o que há muito buscávamos ser. A luz que irradia da poesia ilumina o desfiar de palavras que
se perfilam ao longo do livro em linhas oblíquas. Não só as palavras se suspendem como voltam ao ponto de partida. As palavras vão e voltam. A poesia vai e volta
e se esconde no pensamento de onde não sai mais.
Thereza
Christina Rocque da Motta, poeta, tradutora e editora, Membro da Academia
Brasileira de Poesia e do Pen Clube do Brasil
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