quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A Biblioteca de Alexandria

Um sábio se lembrou, um dia, da biblioteca onde trabalhou. Esta, cujas paredes continham todos os livros, trazidos de todos os lugares, como imposto de cultura a quem passasse por lá. Deixavam papiros, pergaminhos, tabuletas de argila, palimpsestos, lápides de mármore, cascas de árvore, tudo que contivesse um texto.

Essas histórias, escritas em todas as línguas, convergiam para uma única sala, cheia de mesas e cadeiras, divãs e espreguiçadeiras, onde se sentavam os jovens e os velhos, para consultar essas "páginas".

Toda a vida do mundo voltava-se para este lugar, a grande biblioteca da cidade de Alexandre, que mesmo jovem, era erudito - seu mestre, Aristóteles, não o poupou em seus estudos. Daí a fama de disseminador de cultura que tinha. E esses livros, documentos de todos os tempos até então, enchiam a vista dos guardadores de livros de pele de cabra.

Livros eram objetos raros, únicos, irrepetíveis. Copiá-los era um sacerdócio. Transcrevê-los, traduzi-los, uma missão de poucos. Por isso, o sábio se lembrava do tempo em que era jovem, escolhido para copiar as letras de tantos textos que lhe passavam pelas mãos. Aprendia, assim, a copiar e ler o que entendia.

Os hieróglifos, o demótico, as letras cuneiformes, o grego, o latim... O tempo ali não passava, encerrado nas palavras que lia e tudo o que lia era sagrado, como sagrado era o templo de Thot, criador do alfabeto.

Maat, a mãe das leis, usava essas palavras para julgar os homens, pelas ações boas ou más que praticaram em vida. Pesava, com a pena, a alma dos homens e dos faraós, filhos de Rá.

Certo dia, a biblioteca se foi, consumida pelo fogo. Júlio César queimou-a para que não se disseminasse o conhecimento que ela continha. A única forma de manter o poder. Mal sabia que ele mesmo seria morto pela cegueira dos homens.

E o sábio só sabia lembrar dos textos que copiou, das letras que lia à noite, sob o candeeiro, ou à luz do dia, das histórias que lhe foram dadas para estudar.

Assim lembramos de todos os livros que lemos, pois eles, mesmo ausentes, nunca nos abandonam.

Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 2009 - 2h47

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