terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Divulgação x distribuição: a cigarra e a formiga

Não é de hoje que a confusão entre esses dois temas me toma tempo para explicar o que é um e o que é o outro. Invariavelmente, um autor novo me pergunta:
- Você também faz divulgação dos livros?
Antes de responder que sim, tenho que tomar cuidado para perguntar o que ele entende por "divulgação", e a revelação vem, em seguida:
- Você os coloca à venda nas livrarias?
Aí eu tenho que parar a conversa e dizer que as duas não são a mesma coisa: divulgação não é distribuição de livros, mas sem a divulgação, não adianta distribuí-los, porém, mesmo divulgando, nem sempre as livrarias aceitam a distribuição dos nossos lançamentos.
- Por quê?
Divulgar é anunciar o lançamento de um livro, contratar um assessor de imprensa, e conseguir notas nas editorias de cultura, uma chamadinha numa coluna social, ou em sites da internet, mandar convites virtuais e impressos, ligar para os amigos dizendo que está lançando um livro. Divulgar é tudo o que importa, avisar a Deus e o mundo que o livro existe e que já pode ser comprado.
Pergunta seguinte:
- Onde?
Aí temos de explicar que autores novos ficam todos juntos num lugar só para ver se crescem, como numa estufa, todos muito quentinhos, para que as raízes tão incipientes se agarrem ao solo.
- ...?
Não é nada disso. A distribuição dos livros é a parte mais dolorosa depois do lançamento, a mais trabalhosa, a mais onerosa e a mais lenta. Sem um distribuidor (ou mesmo com ele), temos de abrir caminho dentro das livrarias, conhecer o livreiro, o vendedor, o caixa, o segurança, a compradora, frequentar esse espaço sagrado onde os livros se reúnem.
Distribuição é o trabalho de formiguinha, enquanto a cigarra (a divulgação) canta. Ou seja, uma não existe sem a outra, como na fábula, mas só divulgar não adianta, e querer distribuir sem divulgar não funciona.
Na ausência de uma divulgação eficaz, o melhor jeito é colocar a boca no trombone e avisar todo mundo que se conhece que tem livro novo na praça. Mas se conseguirmos uma notinha, entrar na agenda de lançamentos, ou a foto da capa do livro nas sugestões do Prosa & Verso ou do Ideias... Que alegria!
Distribuir requer os instrumentos certos, os conhecimentos dentro das livrarias, e muita, muita paciência, porque mesmo depois de entrar em dez livrarias, é preciso verificar se o livro vendeu, checar o estado dos livros, fazer os acertos... Isso eu digo como pequena editora que tem que cuidar tanto do livro quanto da venda e consignação das nossas edições.
O acerto é incerto. Nem sempre temos a certeza de receber ou sequer de vender, mas a mágica acontece. A insistência faz com que descubramos quais as melhores livrarias e onde devemos consignar (ou não) os nossos livros.
O tempo é o melhor conselheiro. Há dez anos venho fazendo isso e ainda estou aprendendo o caminho que me leva à vitrine de uma livraria, à relação dos mais vendidos, aos mais clicados no site de vendas.
O livro começa como ideia e termina como produto de venda e objeto de comércio. O livreiro e o divulgador só veem o livro como mercadoria.
E é como mercadoria que temos que pensar nosso livro, senão ele não vende. E se quisermos vendê-lo, vamos ter de entender um pouco melhor essa mecânica que faz com que as pessoas saiam de casa ou cliquem num mouse para comprar o nosso livro.
É uma luta e uma vitória, todos os dias.

Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2009 - 21h30

2 comentários:

  1. Thereza, que ótimo receber este texto. Me fez lembrar dos meus tempos de assistente editorial da Revan.
    Eu tinha uma agonia enorme por conta da falta de divulgação... O sentimento foi tamanho que fui fazer uma segunda faculdade, jornalismo.

    Há anos sou assessora de imprensa. Há uns cinco anos divulgando os livros da Ibis Libris. Trabalho árduo, difícil, de bastidor, mas compensador.

    É uma sensação incrível quando você consegue emplacar um autor em um importante programa de TV, quando um blog especializado comenta o livro, sair na lista de lançamentos, uma bela resenha... Sabor de vitória! De conquista a favor da leitura. Sei que o texto não foi inscrito para mim, mas ganhei um presente seu. Em nome da Usina da Comunicação, muito obrigada!
    Beijão.
    Clau.

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  2. Claudia,
    só li seu comentário agora. Muito obrigada a você por sua persistência e tenacidade. Continue assim. É o trabalho de formiguinha que eu me refiro e que você sabe fazer muito bem. Continue. Aprimore. Você me deu seu voto de confiança. Eu lhe dei o meu. Parabéns. Beijos.
    Thereza Christina

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