sexta-feira, 22 de julho de 2016

O começo de uma história se assemelha a um nascimento

O começo de uma história se assemelha a um nascimento: compreender o mundo é função do ser humano, esta espécie em extinção. Buscar nos animais nossa contraparte divina é a forma mais simples de se conhecer. De todos os mamíferos, o maior deles é a baleia – este ser aquático como os botos-tucuxis que emergem para atrair os homens de volta às águas. A natureza humana é celestial e aquática. Tanto os céus quanto os mares nos fascinam e nem sabemos por quê. A baleia é a voz da Mãe Terra. A Terra que sobrenada em dois terços de água, é o macrocosmo de nosso corpo aquoso. Os dias são líquidos e escorremos sobre eles como placas tectônicas sobre o magma. Compreender, compreender tudo, é o destino dos homens. Destino, missão, fado. Aos mares lançaram-se os portugueses em busca de horizontes. Sua terra tão franzina fez com que quisessem conquistar o mundo. É o mesmo que fazem os homens em sua ânsia pelo mar. Um amor deve alargaralargar horizontes, alargar vidas, abrir portas, enseadas, baías, descer rios, encostas, enfrentar abismos, escalar montanhas, quantas descobertas, meu Deus! São todas essas descobertas que fazem parte do mundo de Bárbara, que, até pelo nome, já nasceu desbravadora. Por que a escrita, por que os sentimentos, por que as bombas, por que as guerras, por que as causas humanas, por que tudo isso que faz parte da vida? São muitas as línguas e os alfabetos existentes no mundo, mas se todos são provenientes da mesma raiz, a língua comum existente é o amor. O amor é a maior descoberta. Para isso vivem os homens – para amar e ser amados – e descobrir o preço desse amor, nem que seja à custa de muito sofrimento. A redenção de todas as dores, pelo renascimento nas águas, de onde vieram, certamente.


Thereza Christina Rocque da Motta, apresentação ao livro “Bárbara e a baleia”, de Flavia Muniz Cirilo, Multifoco, 2010 


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