domingo, 11 de março de 2018

Minha mão contém palavras que não escrevo


Com este título iniciei o primeiro poema do livro que escrevi a quatro mãos com o poeta Álvaro Alves de Faria, em 8 de junho de 2016, depois de termos nos “reencontrado” pelo Twitter. Ele me propôs que escrevêssemos em sequência 22 poemas cada um, intercalados, um em resposta ao outro, e o tema seria a poesia e os poetas, portanto, metapoema, daí o primeiro verso que escrevi. O 44º poema foi escrito pelo Álvaro em 28 de julho de 2016, ou seja, um mês e vinte dias depois.

O que me surpreendeu foi que fiz poemas diferentes do que estava habituada a escrever e ele, por sua vez, foi acompanhando, ora seguindo, ora orientando para onde estávamos indo. O processo foi rápido, mas o resultado foi surpreendente. Eu não esperava ter escrito o que escrevi, a começar pelo primeiro poema, que deu título ao livro (claro que ele me deixou começar por cavalheirismo).

Durante quase um mês e meio, ele também era pego de surpresa pelos poemas que eu escrevia e me perguntava se eu estava chateada com ele. Claro que não. Mas a comunicação por e-mail pode ser muito falha e houve alguns mal-entendidos.

Depois que os poemas ficaram prontos, comecei a preparar a edição, sempre prometendo que logo ficaria pronto, o que não consegui. O ano de 2017 foi muito árduo, praticamente sem dinheiro para fazer nada. De 40 livros anuais dois anos antes, fiz somente dez, o que é uma catástrofe em termos de receita da editora. Mas consegui, por esforço hercúleo, imprimir alguns exemplares no meio do ano, que mandei para Álvaro, mas não consegui ir a São Paulo para lançá-lo. Fui para a Bienal, mas não lançamos o livro como havíamos planejado.

No começo de 2018, Álvaro se queixou dizendo que o tempo do livro tinha passado, que não cabia mais lançá-lo. Mas sequer tinha sido lançado ainda, respondi. A ansiedade fez com que ele se cansasse de esperá-lo. Fiquei triste de não poder atendê-lo, mas disse que eu acreditava que, ao contrário, o tempo do livro ainda não tinha chegado, que tinha ficado lindo, bem editado, etc., e que em alguma hora iríamos conseguir lançá-lo e ele me disse que faria o que eu dissesse. Apesar disso, anunciei o título na loja virtual da editora, apenas para constar, mas não acreditava que alguém fosse comprá-lo. Os poucos exemplares que fiz acabaram logo (imagine) e, os demais, mandei para Álvaro levar para Portugal e Espanha no final do ano.

Qual não foi minha surpresa quando, em 11 de fevereiro, pouco depois de Álvaro fazer sua queixa sobre a falta de lançamento, recebi um pedido de compra de um exemplar de uma moça que eu não conhecia: Mariangela Bazbuz, a quem tive de explicar que o livro estava sendo reimpresso, mas que eu estava esperando encontrar um bom preço por ele (na verdade, eu arrisquei, nem sabia como ela iria reagir), e perguntei, candidamente, por que tinha se interessado por ele. Aí ela me explicou que lia há tempos meus poemas e que tinha achado o título interessante, por dizer algo sobre o momento que ela estava passando. Por causa disso, seguiu-se uma série de emails até o início de março, quando eu já tinha conseguido um preço excelente para reimprimir o livro em seis dias úteis! Ela se surpreendeu de a própria autora responder ao e-mail, além de ser a editora do livro. Contou um pouco sobre ela, como tinha se aproximado da literatura e formado um grupo de leitura de textos de Clarice Lispector em Niterói! Tudo em literatura conspira.

Agora o que ela não esperava: por causa do pedido dela, o livro vai finalmente nascer. Recebi a notícia de que ficou pronto anteontem e saiu de São Paulo na sexta-feira e vai chegar aqui amanhã. Incrível como a vontade dela de ter o livro fez com que ele ressurgisse. Chegou a hora de entregá-lo a Mari. Eu vou poder confirmar para Álvaro que o tempo do livro realmente ainda não havia chegado, e que, como sempre, é preciso esperar pelo tempo do livro. “Minha mão contém palavras que não escrevo” nasceu agora.

11/03/2018 – 9h36 – Dia em que escolhi o nome da editora, em 2000, a partir do apelido de Fernando Pessoa, Íbis, como ele se assinava nas cartas a Ophélia, a Íbis-bebê, e por sua imagem estar encravada no Pão de Açúcar, segundo a lenda, desde 1500 a.C, quando os fenícios estiveram aqui. A editora foi lançada em 18 de agosto de 2000, no Museu da República, com o primeiro livro de Ricardo Ruiz, Poesia Profana.


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