Com este título iniciei o primeiro poema do livro que escrevi a quatro
mãos com o poeta Álvaro Alves de Faria, em 8 de junho de 2016, depois de termos
nos “reencontrado” pelo Twitter. Ele me propôs que escrevêssemos em sequência
22 poemas cada um, intercalados, um em resposta ao outro, e o tema seria a
poesia e os poetas, portanto, metapoema, daí o primeiro verso que escrevi. O
44º poema foi escrito pelo Álvaro em 28 de julho de 2016, ou seja, um mês e
vinte dias depois.
O que me surpreendeu foi que fiz poemas diferentes do que estava
habituada a escrever e ele, por sua vez, foi acompanhando, ora seguindo, ora
orientando para onde estávamos indo. O processo foi rápido, mas o resultado foi
surpreendente. Eu não esperava ter escrito o que escrevi, a começar pelo
primeiro poema, que deu título ao livro (claro que ele me deixou começar por
cavalheirismo).
Durante quase um mês e meio, ele também era pego de surpresa pelos
poemas que eu escrevia e me perguntava se eu estava chateada com ele. Claro que
não. Mas a comunicação por e-mail pode ser muito falha e houve alguns
mal-entendidos.
Depois que os poemas ficaram prontos, comecei a preparar a edição,
sempre prometendo que logo ficaria pronto, o que não consegui. O ano de 2017
foi muito árduo, praticamente sem dinheiro para fazer nada. De 40 livros anuais
dois anos antes, fiz somente dez, o que é uma catástrofe em termos de receita
da editora. Mas consegui, por esforço hercúleo, imprimir alguns exemplares no
meio do ano, que mandei para Álvaro, mas não consegui ir a São Paulo para
lançá-lo. Fui para a Bienal, mas não lançamos o livro como havíamos planejado.
No começo de 2018, Álvaro se queixou dizendo que o tempo do livro tinha
passado, que não cabia mais lançá-lo. Mas sequer tinha sido lançado ainda,
respondi. A ansiedade fez com que ele se cansasse de esperá-lo. Fiquei triste
de não poder atendê-lo, mas disse que eu acreditava que, ao contrário, o tempo
do livro ainda não tinha chegado, que tinha ficado lindo, bem editado, etc., e
que em alguma hora iríamos conseguir lançá-lo e ele me disse que faria o que eu
dissesse. Apesar disso, anunciei o título na loja virtual da editora, apenas
para constar, mas não acreditava que alguém fosse comprá-lo. Os poucos
exemplares que fiz acabaram logo (imagine) e, os demais, mandei para Álvaro
levar para Portugal e Espanha no final do ano.
Qual não foi minha surpresa quando, em 11 de fevereiro, pouco depois de
Álvaro fazer sua queixa sobre a falta de lançamento, recebi um pedido de compra
de um exemplar de uma moça que eu não conhecia: Mariangela Bazbuz, a quem tive
de explicar que o livro estava sendo reimpresso, mas que eu estava esperando
encontrar um bom preço por ele (na verdade, eu arrisquei, nem sabia como ela
iria reagir), e perguntei, candidamente, por que tinha se interessado por ele.
Aí ela me explicou que lia há tempos meus poemas e que tinha achado o título
interessante, por dizer algo sobre o momento que ela estava passando. Por causa
disso, seguiu-se uma série de emails até o início de março, quando eu já tinha
conseguido um preço excelente para reimprimir o livro em seis dias úteis! Ela
se surpreendeu de a própria autora responder ao e-mail, além de ser a editora
do livro. Contou um pouco sobre ela, como tinha se aproximado da literatura e
formado um grupo de leitura de textos de Clarice Lispector em Niterói! Tudo em
literatura conspira.
Agora o que ela não esperava: por causa do pedido dela, o livro vai
finalmente nascer. Recebi a notícia de que ficou pronto anteontem e saiu de São
Paulo na sexta-feira e vai chegar aqui amanhã. Incrível como a vontade dela de
ter o livro fez com que ele ressurgisse. Chegou a hora de entregá-lo a Mari. Eu
vou poder confirmar para Álvaro que o tempo do livro realmente ainda não havia
chegado, e que, como sempre, é preciso esperar pelo tempo do livro. “Minha mão
contém palavras que não escrevo” nasceu agora.
11/03/2018 – 9h36 – Dia em que escolhi o nome da editora, em 2000, a
partir do apelido de Fernando Pessoa, Íbis, como ele se assinava nas cartas a
Ophélia, a Íbis-bebê, e por sua imagem estar encravada no Pão de Açúcar,
segundo a lenda, desde 1500 a.C, quando os fenícios estiveram aqui. A editora
foi lançada em 18 de agosto de 2000, no Museu da República, com o primeiro
livro de Ricardo Ruiz, Poesia Profana.
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